“Diplomacia da Caligrafia” na reunião do G20 em Hangzhou

por Arsenio Reis

No dia 5 de setembro, durante a Reunião do G20 em Hangzhou, a primeira-dama chinesa, Peng Liyuan, esposa do presidente Xi Jinping, convidou as esposas dos líderes das delegações estrangeiras a visitarem a Academia de Artes da China. Peng Liyuan e os seus convidados fizeram uma visita a esta academia centenária, experienciaram um pouco da cultura chinesa e receberam do diretor da academia uma apresentação sobre a história da instituição, o seu contexto e as características do seu ensino. Posteriormente, visitaram uma exposição de cerâmica céladon intitulada “Depois da Tempestade Vem a Bonança”, onde puderam apreciar o charme singular da modesta e elegante cerâmica chinesa. Assistindo depois à exposição de pintura “Imagens da China”, Peng Liyuan e os convidados, para além de poderem desfrutar de obras clássicas da pintura chinesa como “Xixi Ji Sheng” e “Zhu He Tu Zhou”, puderam assistir à criação de uma obra de pintura e caligrafia intitulada “Memórias do Sul” por quatro renomados artistas chineses. Um calígrafo do grupo de quatro artistas mostrou ainda aos convidados a técnica do pincel de caligrafia e a forma de segurar no pincel. Peng Liyuan convidou os visitantes a escreverem o carater “he”, dizendo: “O carater he na língua chinesa tem o significado de paz e harmonia, representando o nosso desejo comum para o mundo”. As esposas dos líderes das delegações estrangeiras pegaram nos seus pincéis com interesse e criaram cada uma a sua obra caligráfica.

A caligrafia não é só a técnica de escrever carateres chineses, é também a arte de representar os sentimentos do espírito humano através de linhas, tons, contrastes e densidade, entre outros elementos. A caligrafia é uma arte nacional e internacional, não estando, por isso, restrita aos chineses. Muitos membros da comunidade estrangeira não só são capazes de apreciar a caligrafia, como também conseguem criar obras caligráficas de alta qualidade. Isto demonstra a internacionalização da caligrafia que tem vindo a acontecer há vários anos. A caligrafia não só possui uma profunda ideologia intrínseca, mas é também uma arte de cultivo pessoal, uma verdadeira forma de vida. Pode dizer-se que a caligrafia é uma rara relíquia da cultura chinesa que representa de forma universal as características do Oriente, e que pode também ter forma em qualquer cultura do mundo, desempenhando por isso um papel importante na diplomacia pública e civil no atual contexto de globalização. Depois de mostrar aos convidados a cerâmica e seda da China e de lhes dar a experienciar duas artes vastas e profundas da cultura antiga chinesa, Peng Liyuan fez uso da caligrafia como forma de fortalecer as relações com os países participantes na Reunião do G20 em Hangzhou. Ao que parece, o resultado da “diplomacia da caligrafia” foi muito positivo.

Os chineses dizem muitas vezes que “a escrita revela a pessoa”, o que não quer dizer que a escrita esteja necessariamente relacionada com a aparência ou habilidades de um individuo, mas sim que a escrita pode refletir o tipo de personalidade de uma pessoa, o que se chama em chinês moderno de “ver a aura”.

De um ponto de vista de comparação entre culturas, o Oriente e o Ocidente ambos possuem carateres e escrita, sendo que a escrita assume uma função idêntica nas duas culturas, a de registar e transmitir pensamentos. Contudo, com o passar dos tempos, o Ocidente adotou a escrita a caneta, enveredando por uma estética industrial; enquanto a China se serviu da escrita a pincel, acompanhada pelas qualidades absorventes do papel de arroz, e seguiu o caminho da arte caligráfica. Caso a caligrafia chinesa avance rumo à internacionalização, desde que a sua propagação seja feita de forma correta, esta bela “arte do traço” poderá rapidamente ser acolhida por todo o mundo.

A caligrafia pode proporcionar ao leitor uma experiência agradável, e pode cultivar no calígrafo qualidades como a meticulosidade, a concentração ou a honestidade. A caligrafia está ligada à natureza interior de uma pessoa, e através da escolha intencional de um estilo caligráfico e da dedicação e perseverança é possível concretizar até certo ponto uma transformação interior, corrigindo os aspetos excessivos ou deficientes e promovendo o desenvolvimento pessoal rumo à perfeição.

Naturalmente, não podemos ainda comparar a “diplomacia da caligrafia”, exercida durante esta reunião do G20 por Peng Liyuan, aos resultados da reunião em si. Contudo, podemos adivinhar que ela venha a desempenhar um papel importante noutros aspetos das relações entre estes países.

DAVID Chan 

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