Novos negócios de Macau a sondar Portugal

por Arsenio Reis

Macau e Portugal prometeram cooperar na área do empreendedorismo jovem. As start-ups da região esperam apoios diferenciados e veem no país oportunidades para parcerias e diversificação de investimento. Mas a venda de produtos agroalimentares continua a dominar a relação.

Um formato não serve todos. Os jovens empresários de Macau – representados na Associação de Jovens Empresários de Macau e na Associação de Jovens Macaenses – aguardam com expectativa os resultados da nova promessa de cooperação selada pelo Chefe do Executivo, Chui Sai On, e pelo Governo português durante a última reunião bilateral anual, a 12 de Setembro. Mas, por enquanto é cedo para dizer como a nova aproximação, que elege o empreendedorismo jovem como um dos temas de contacto, poderá ser útil à sua atividade. As start-ups são um mundo de variáveis, e de necessidades. E haverá ideias a fazer chegar ao Governo de Macau.

“Não há uma única forma de funcionar que possamos dizer que é a forma adequada para trabalhar dos dois lados”, afirma Jorge Valente, presidente da Associação de Jovens Macaenses e membro da organização que agrega os empresários mais jovens da região. Na passada semana, 17 dos associados de ambas as estruturas integraram uma missão empresarial a Portugal onde o prato forte foi a apresentação de incubadoras e empresas nos sectores da inovação, acompanhado de sessões sobre o sector imobiliário português e outras de troca de contatos com fornecedores do sector agroalimentar.

“O fintech é diferente de quem faz trading, que é diferente de quem faz ‘research and development’. Há tantas variáveis que depende do ramo. As start-ups são tão variadas que é difícil ter uma fórmula. Mas estamos a ver e a pensar como melhor podemos servir, e como o Governo nos pode ajudar no papel de start-ups”, explica o empresário. Valente lidera um negócio na área das tecnologias de informação aplicadas ao setor do jogo e outro de agenciamento de produtos e negócios orientado para as trocas comerciais entre a China e os países de língua portuguesa.

Na visita de uma semana a Portugal, os jovens empresários de Macau tiveram no seu itinerário paragens para conhecer, por exemplo, a Blip, um grupo de empresas na área da engenharia informática com escritórios no Porto e que se dedica ao desenvolvimento de aplicações para a Web, e a associação Beta-i, de Lisboa, de apoio a start-ups.  Em Coimbra, visitaram também o Instituto Pedro Nunes, uma associação que gere uma incubadora de start-ups e laboratórios em áreas que vão desde a automação à informática, passando por ensaios de materiais, fitossanidade, geotecnia e electroanálise.

“Depois de visitar as incubadoras e algumas das empresas, estamos a pensar qual a forma de trabalhar [com estas entidades], de criar projetos, empresas ou métodos de trabalho  onde se possam usar os pontos fortes de cada lado.  Mas ainda não há ao certo uma resposta sobre como fazer, nós próprios estamos a pensar”, afirma Valente.

Entre as apresentações feitas, a delegação de Macau ficou a conhecer novos fundos de capital de risco dedicados ao financiamento de novos projetos portugueses na área da inovação. Na prática, uma oportunidade de investir não necessariamente enjeitada. “Há uma semana, os empresários que vieram não sabiam que existiam. Agora já sabem que existem e têm de avaliar se é interessante ou não-interessante”, diz.

Os jovens empresários de Macau integrados nesta missão representaram setores que vão desde o imobiliário ao desenvolvimento de software, passando por agenciamento comercial, arquitetura, serviços jurídicos e indústrias criativas. Da parte das empresas e instituições visitadas em Portugal, admite o presidente da Associação de Jovens Macaenses, sentiu-se sobretudo o objetivo de captar investimento, e não de realizá-lo. Por outro lado, grande parte das oportunidades visam, efetivamente, o agenciamento comercial para o sector agroalimentar – um ramo tradicional no relacionamento empresarial entre Macau e Portugal que continua a ser predominante, mas que no presente pode assentar em novas plataformas.

“O sector que mais faz o leverage  do que Macau tem de bom, de usar Macau como plataforma é fazer o cross-border trading. Ou seja, vender em plataformas online produtos alimentares portugueses – especialmente, vinhos e enlatados – para a China. É um exemplo. E quem diz alimentos, pode acrescentar calçado, vestuário – tudo o que se vende e que se pode exportar para Macau facilmente pode ser vendido para a China, aumentando muito o mercado”, defende Jorge Valente.

No Porto, os empresários de Macau visitaram as instalações da Associação Nacional de Jovens Empresários de Portugal para uma sessão de contatos de duas horas com um grupo de 30 fornecedores de produtos alimentares – cerca de um terço do total de produtores com os quais a missão fez contato durante a visita de uma semana. O grupo ficou também a conhecer a Portugal Foods, uma associação formada por empresas e instituições do setor e que se distingue pela participação em feiras internacionais como a SIALP, de Xangai.

“Existe muito interesse em termos das empresas portuguesas quererem uma representação em Macau, alguém que trabalhe com eles e que faça com que eles tenham mais oportunidades e sejam conhecidos lá fora. É uma situação em que ambos os lados podem ganhar”, afirma Valente.

A cooperação empresarial neste sector tradicional continua a suscitar interesse, mesmo quando negócios de Macau e Portugal mantêm queixas prolongadas sobre obstáculos logísticos e ao desalfandegamento. Jorge Valente, também a trabalhar no sector, afirma que os negócios vivem resignados. “Há muitos pontos onde se pode melhorar na logística. Mas penso que em Macau já aprendemos a viver com o que é complicado e difícil. Apenas temos de aprender a viver com isso. Não vale a pena estarmos muito agarrados a esse ponto porque desde que seja igual para todos, que alguém que importa um contentor não tenha maiores facilidades que outros, e uma vez tendo aprendido a viver com isso, não é um ponto que vá travar qualquer negócio”, diz.

Portugal continua ainda a representar, sobretudo, oportunidades de investimento. “Dos jovens que vieram até Portugal, alguns têm empresas que fazem investimentos, aplicações financeiras. Viram em Portugal muitas oportunidades de coisas que, se calhar, têm menos risco e que têm um retorno melhor do que estar a investir tudo em Macau. Trata-se de não meter os ovos todos no mesmo saco, de diversificar através da geografia, através de diferentes ramos. Neste momento, em Portugal existem bastantes [oportunidades] no imobiliário, serviços e empresas, e o clima é muito bom para as empresas e pessoas que vêm de fora”, entende.

Algumas dessas oportunidades foram apresentadas numa sessão organizada pelo Banco Comercial Português, em Lisboa, etapa da visita à qual se juntaram cinco empresários da província de Guangdong. “Falou-se muito de imobiliário, desenvolvimento de projetos nesta área, do arrendamento de escritórios e habitação”, descreve Jorge Valente.

Maria Caetano 

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