Sexo e afins banidos

por Arsenio Reis

governo chinês limitou ainda mais a liberdade de expressão no país ao banir da televisão e da internet o sexo casual, adultério, uso de drogas e álcool, cenas românticas de jovens, lutas, pessoas fumando e programas que promovem superstições como bruxas.

 Revelar estratégias e táticas da polícia, simular possessão espiritual ou reencarnação também foram incluídos na lista de temas censurados.

Segundo a Time, mostrar casamentos infelizes agora também está proibido. Os escritores chineses também não podem citar a “glorificação ao colonialismo, guerras étnicas e conquistas dos outros países” ou a representação de um “estilo de vida luxuosa” porque a inveja “causa ressentimento e gera uma instabilidade social”. Viagens no tempo também estão proibidas em histórias de ficção científica. Isso porque o Poliburo (comitê de membros do partido comunista) não quer que o povo sonhe com a possibilidade de como alterar história para melhor.

Os programas mais assistidos pela internet na China são Addiction, que retrata o amor, e Go Princess Go, que tem conteúdo com cenas de sexo e violência. Após a decisão, Addiction foi retirado do ar três episódios antes do final da temporada.

O sexo antes do casamento era crime 

Ao longo dos últimos 20 anos, o comportamento sexual dos chineses vem passando por uma revolução – um processo observado cuidadosamente e, às vezes, encorajado pela primeira mulher especializada em sexologia do país, Li Yinhe.

Numa pesquisa feita em 1989, 15,5% dos participantes disseram ter feito sexo antes de se casarem. Há dois anos, num outro estudo , o índice subiu para 71%.

Estas mudanças que ocorreram em ritmo acelerado,foram registadas pela sexóloga na sua investigação. Não é difícil entender por que ela usa o termo “revolução”. Até 1997, sexo antes do casamento era crime e as pessoas iam presas.

A mesma história repete-se com pornografia, prostituição e festas de swing. Em 1996, o dono de uma sauna foi condenado à morte por promover prostituição, disse Li numa palestra no ano passado. Hoje, é uma prática comum – e a punição mais severa possível é o fecho do negócio.

Quem se envolvesse na produção de pornografia poderia ser condenado à morte até meados dos anos 1980, assim como quem organizasse festas de sexo. Agora, a punição para ambos os casos é mais leve e apesar de ainda serem práticas ilegais, tornaram-se bastante comuns. “Ninguém os denuncia, então eles passam incólumes”, afirma Li.

Clima puritano

Como socióloga, ela passou boa parte da década de 1980 em Pittsburgh, nos Estados Unidos, e, quando voltou à China, encontrou o país ainda a viver o clima puritano instituído por Mao Tse-tung, principal líder da revolução comunista que levou á instituição do atual regime, a República Popular da China, em 1949.

Nos primeiros anos do regime comunista, escrever sobre amor era considerado um comportamento burguês. Isso só se tornou possível no fim dos anos 1950, mas escrever sobre sexo permaneceu proibido até aos anos 1980 – e, mesmo então, os autores tinham que respeitar certos limites.

Um dos livros de Li, “A Subcultura da Homossexualidade”, publicado em 1998, só podia ser comprado por pessoas que tinham recebido cartas-convite de seus chefes ou quem tinha posições previligiadas.

O tratamento dado pelas autoridades a outro livro, “A Subcultura do Sadomasoquismo”, publicado na mesma época, foi ainda mais extremado. “Mandaram que eu queimasse todas as cópias… Mas as 60 mil cópias já tinham sido todas vendidas. Então, a ordem não foi cumprida”, revela Li.

A tradução feita por ela de um livro sobre bissexualidade foi recusada por editoras chinesas, e ela teve de sair da China continental, até Hong Kong, para encontrar quem publicasse seu livro sobre polissexualidade.

Mais liberdade

Mas o Partido Comunista, o único do país e que atualmente o governa, tem  visto a sexualidade como uma questão privada e Li tem ganho mais liberdade para fazer as suas pesquisas e escrever os seus livros.

Um dos principais motores da mudança nas atitudes em relação ao sexo, segundo Li, é a política do filho único imposta pelo Partido Comunista entre 1979 e 2015. “Ela fez com que as pessoas tivessem um ou dois filhos apenas. Então, a não ser que desista do sexo depois disso, a política acabou mudando o propósito de fazer sexo. Fazer sexo por prazer passa a ser algo aceite. As pessoas estão a passar por uma mudança revolucionária na sua mentalidade e no seu comportamento”, conta.  

O escritor que usa “o sexo para revelar a corrupção do sistema”

Chen Xiwo é um escritor chinês que tem várias obras proibidas no país. Sobre a evolução da liberdade de expressão na China diz que “a situação é muito pior do que no passado, pior do que no tempo do Mao.”

O sexo, na sua faceta mais perversa, negra e imoral, é o instrumento literário predileto de Chen Xiwo para apontar o dedo à corrupção na China, valendo-lhe a proibição dos seus livros e um caso em tribunal.

“Uso o sexo para revelar a corrupção do sistema. O sexo e a política estão sempre ligados. O sexo é uma traição do sistema, o outro lado do sistema”, disse o escritor, convidado da 5.ª edição do Festival Literário de Macau.

O exemplo máximo desta faceta da sua literatura é “I Love My Mum”, uma das novelas do seu livro “The Book of Sins” (em chinês “O Livro das Ofensas”), que conta uma história de incesto entre mãe e filho.

A novela, proibida na China, como várias das suas obras, desenrola-se numa cidade com “desejo de riqueza” e está repleta de momentos que revelam a fraqueza moral da sociedade.

“Quando tentam abater um governante, normalmente recorrem a uma controvérsia, a um escândalo sexual para o atingir. É assim que funciona na política — o sexo está sempre ligado”, exemplifica.

“As pessoas dizem que o amor é o tema eterno da literatura, mas para mim não é o amor, é o sexo — nem sequer o sexo, mas a pornografia”, afirma, acrescentando que espera que os leitores “consigam sentir” que o seu trabalho é fruto da “vontade de rebelião contra o sistema”.

A novela “I Love My Mum” seria só mais uma banida na China não tivesse Chen atraído atenções mediáticas ao processar o Governo chinês.

“A maioria dos autores, quando enfrenta esse tipo de situação, recua e escreve uma autocrítica de modo a que o seu trabalho seja autorizado. Tinha a certeza de que ia perder o caso. Mas mantive-me ali pela minha alma, para me encorajar. Se não enfrentasse o Governo, não era eu, preciso de uma revolução”, explica.

“A situação é muito pior do que no passado, pior do que no tempo do Mao. Mas é uma boa oportunidade para os escritores porque quando estamos sob pressão e conseguimos resistir, tornamo-nos mais fortes”, tal como aconteceu “na Rússia antes da revolução”.

O seu pai, “uma pessoa letrada”, sobreviveu à Revolução Cultural e vive em permanente preocupação com o filho.

“Tento não mostrar os meus trabalhos ao meu pai. No entanto, em entrevistas aos ‘media’ falo sempre de alguma coisa, abordo os temas [dos livros]. Até referências muito breves e suaves o deixam em pânico, não consegue dormir à noite. Fica nervoso com o lado político, porque acha que quando falo sobre isso fico em perigo”, conta.

Nas primeiras páginas de “I Love My Mum” há uma nota prévia: “O poder do Estado é absoluto: o teu livro pode ser banido sem que tenham de apresentar qualquer tipo de motivo”. Na capa, o selo “Banido na China”.  

Curiosidades

Homens podem ter até 3 namoradas

A Cidade a Dongguan, na província meridional chinesa de Cantão, popularmente conhecida como “Cidade do Sexo“, pela super população de mulheres modificou as estruturas sociais, permitindo que um homem tenha até três namoradas e inclusive que faça pequenos trabalhos para ganhar a vida.

O facto deve-se à política trabalhista dos diretores das fábricas locais, que preferem contratar mão de obra feminina porque, segundo crê, são mais confiáveis que os homens. Isto fez com que a cidade tenha muito mais mulheres do que homens. Assim é normal que cada homem tenha várias namoradas e, mais, não tê-las e não ser mantidos por elas, pode ser um símbolo de “vergonha”. Muitos inclusive fazem biscates, vendendo os seus corpinhos.

Um restaurante sadomasoquista 

Com bebidas servidas em copos no formato de seios e cervejas abertas em garrafas que imitam um pénis, um restaurante está a dar que falar em Pequim. 

No menu do restaurante, estão pratos com o nome “Tesão” e “Mundo Sensual”,”Comida e sexo são os dois desejos mais básicos do ser humano. E isso não muda há mais de 5 mil anos. ‘Liberte os seus instintos básicos’ e ‘seja você mesmo’ são dois conceitos-chave do nosso restaurante”, afirmou a chinesa Lu Lu, dona do restaurante

A decoração do local também segue a linha sadomasoquista, com chicotes e desenhos de mulheres amarradas pelas paredes. 

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