A China tem outra margem

por Arsenio Reis

relatório que publicámos na semana passada, no qual o McKinsey Global Institut calcula em 1,2 mil milhões de dólares – 12 por cento do PIB – um resgate à banca chinesa, tem efeitos devastadores nos índices de confiança económica. O problema, diz a mesma fonte, é que a dívida soberana roçará os 25 mil milhões de dólares, muito por força do crédito mal parado aos municípios e aos grandes monopólios estatais. Não é por acaso que um décimo dos investimentos europeus previstos foi já cancelado, no contexto de uma retração generalizada do capital estrangeiro na China.

Estranho seria que a China escapasse imune à crise económica e financeira mundial; impossível é imaginar que o combate à corrupção, a migração para uma indústria de alta intensidade tecnológica e o fomento do mercado interno – para compensar a queda nas exportações – não desacelerassem o crescimento. É grave, mas só será dramático se não for circunstancial – como se espera. 

A China tem reservas financeiras mais que suficientes para absorver o choque; lançou um plano de investimentos em infraestruturas, atuando em contraciclo; tem no mercado interno um enorme potencial de crescimento – metade da população ainda vive na ruralidade – e mecanismos de decisão política bem mais eficazes que o desvario que vinga na União Europeia. 

O tempo curto é de contenção – e de reconversão. Não vale a pena Macau pensar que tudo se resolve, num passe de mágica, descurando as mudanças que urge atacar em mercados como este, dependente da fuga de capitais estatais chineses que rodavam nas salas VIP. Mas também não vale a pena o mundo pensar que agora deslocaliza o capital para o Camboja, Laos ou Vietname, riscando a China da liderança económica global. 

No médio e no longo prazo, a China tem tudo para recuperar taxas de crescimento inimagináveis para qualquer outra grande potência – ocidental ou oriental. Por outro lado, e apesar da retração do crescimento económico, Pequim mantém intacta a sua ambição de investimentos estratégicos, um pouco por todo o mundo, agregando com isso incontornável influência cultural e política. É esse o plano; é essa a sua dimensão; é esse o seu destino. A velocidade mudou, porque o presente o exige; mas os fundamentals da economia provam que há margem de sobra para conquistar o futuro. 

Paulo Rego 

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