O “estilo chinês” da Disneylândia em Xangai

por Arsenio Reis

No dia 16 de junho abriu oficialmente a Disneylândia de Xangai, localizada na zona de Chuansha, no distrito de Pudong, com uma área total de 7 quilómetros quadrados e um investimento de 5,5 mil milhões de dólares. O parque inclui seis secções principais: a Avenida do Mickey, os Jardins da Imaginação, a Ilha da Aventura, a Terra do Amanhã, a Baía do Tesouro e a Fantasilândia, assim como dois hotéis temáticos e uma área de comércio, restauração e lazer de 4200 metros quadrados. No dia da cerimónia de abertura, os presidentes da China e dos Estados Unidos, Xi Jinping e Barack Obama, enviaram ambos mensagens de congratulação pelo evento. Robert Iger, presidente e CEO da Disney, afirmou: “Vamos construir um destino de férias mágico que contém o autêntico espírito da Disney e um estilo distintamente chinês.” A Disneylândia de Xangai é a primeira viragem da China em direção a um modo de turismo e lazer ocidental.

Nas atrações turísticas e locais históricos da China, vemos frequentemente pessoas a desrespeitar as filas, a deixar os filhos urinar e defecar nas ruas, a pisar flores e plantas, a discutir por questões triviais, a fumar em locais interditos e até mesmo a destruir atrações turísticas. Estas ocorrências pouco civilizadas não são nada de novo, sendo que os turistas parecem já se ter acostumado e não as veem como algo invulgar. Estas situações também surgiram na Disneylândia de Xangai, dando ao “autêntico espírito da Disney” um “estilo distintamente chinês”.

Nos últimos anos, com o rápido crescimento económico da China, a qualidade de vida do povo chinês aumentou, assim como os seus rendimentos e as suas oportunidades de viajar e fazer compras no estrangeiro. Todos os anos, o número de turistas que saem em viagem, incluindo para o estrangeiro, aumenta na ordem dos milhões, e o consumo turístico regista crescimentos na ordem dos milhares de milhões. Não é de admirar que alguns países tenham aberto as portas aos turistas chineses, tentando atrair mais turistas e lucrar com o seu consumo. Contudo, ao mesmo tempo que lhes dão as boas vindas, muitos povos destes países não se sentem dispostos a louvar o comportamento pouco civilizado dos turistas chineses, sentindo-se até repugnados pelo que acreditam ser um “mau hábito” dos chineses. Eles poderão ter mais dinheiro, mas nada muda o seu comportamento mesquinho.

Sei que o governo central já se apercebeu há algum tempo atrás das consequências do comportamento pouco civilizado dos turistas chineses no estrangeiro, incluindo o efeito sobre a imagem do país e os intercâmbios culturais. Nos anos recentes têm sido tomadas medidas de forma constante para orientar, educar e até regular este comportamento, como os códigos de conduta da Administração Nacional do Turismo, incluindo a “Convenção Sobre o Comportamento Civilizado dos Cidadãos Chineses no Turismo Nacional” e o “Guia do Comportamento Civilizado dos Cidadãos Chineses no Turismo Internacional”. Espero que através destes meios os turistas chineses consigam redimir a sua reputação.

No dia 30 de junho, o condado de Lingshui Li da província de Hainan organizou o evento intitulado “Rumo a um Turismo Global Civilizado”, numa tentativa de plantar as sementes da civilidade e da energia positiva, para cultivar e disseminar um turismo mais civilizado.

Na verdade, a cultura tradicional chinesa desde sempre foi extremamente tolerante. Muitas culturas externas foram absorvidas pela cultura chinesa, e pouco a pouco tornaram-se numa parte integrante do quotidiano chinês. A cultura moderna ocidental do fast food (como os hambúrgueres do McDonald’s, a galinha frita do KFC e o café do Starbucks) levou apenas 30 anos a penetrar no mercado chinês, e já se tornou num elemento quotidiano entre os chineses (particularmente os cidadãos urbanos). Para além de serem capazes de absorver as culturas externas, os chineses também têm por elas um enorme respeito. O provérbio chinês “ao entrar numa vila, segue os seus costumes” ilustra o respeito dos chineses pela cultura e costumes sociais de outras regiões. 

Chegamos agora ao mês de julho, ao começo anual do período turístico, e a Disneylândia de Xangai, tendo já completado mais de meio mês de funcionamento, começa a preparar-se para a chegada dos turistas de verão e para lhes dar oportunidade de desfrutarem dos prazeres do entretenimento e lazer turístico de estilo ocidental. É claro que os “elementos chineses” que desejam receber por parte dos turistas não são os tais “maus hábitos”, mas sim o turismo civilizado. Na realidade, o chamado “turismo civilizado” é uma narrativa complexa. Em termos individuais é um percurso gradual, mas em termos nacionais é uma manifestação da educação e modo de ser dos cidadãos. Espero que todos os visitantes chineses na Disneylândia de Xangai possam desfrutar de todo o conforto e divertimento da civilização ocidental, demonstrando ao mesmo tempo o espírito afável e bem-educado de “estilo chinês”.

DAVID CHAN

 

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