Estado sem graça

por Arsenio Reis

No início do segundo mandato, o Executivo de Chui Sai On ergueu-se em estado de graça. Para isso muito contribuíram o peso específico de Lionel Leong, ponte entre o passado e futuro; a frescura de Raimundo do Rosário, corajoso e desassombrado; e a textura política de Alexis Tam, personificação do verbo fazer… sobretudo na saúde, mas também na educação e na cultura. Contudo, a energia esgota-se e brotam as reticências. Vai-se perdendo a graça…

Lionel, discreto e sabido, comete poucos erros. Mas também não deslumbra nem marca a agenda; arrasta o plano para os casinos e encaixa a imagem da austeridade: cortes pró-cíclicos que asfixiam as pequenas e médias empresas que servem o Estado. Raimundo baixa o tom e perde leveza no confronto com os lobbies da construção. Alexis assumiu ter pressa num novo hospital, mas não lhe cabe a construção; superativou o São Januário, mas viu bloqueadas contratações; chamou Siza Vieira ao Estoril, mas cede aos conservadores…

Comenta-se por aí que os secretários perdem poder. Tiraram-lhes o tapete, diz a voz do povo. Por vezes parece, mas a tese carece de prova. Afinal, quem é que lhes assalta a agenda? Chui Sai On? Curvado sobre si mesmo, o Chefe do Executivo terá mais do que a gota com que se preocupar, mostrando-se um líder cansado e ausente. Muito surpreenderia se, por trás do pano, manobrasse com mão de ferro o ritmo da cidade e a vida dos secretários. É sempre um “mandarim”, em versão burocrática, mas não cerra dentes nem punhos.

“O que faz falta é animar a malta”, diz o verso revolucionário de Zeca Afonso. E faz mesmo. Longe de ser uma revolução, o início do segundo mandato foi um pontapé na inércia e na paralisia. Muito por força de Alexis Tam, aquele que mais riscos correu na mudança de paradigma. As pausas importam; não se fazem todas as guerras, contra toda a gente, ao mesmo tempo. Mas há que zelar pela energia da convicção. Porque faz animar a malta… Mas, sobretudo, porque elege o verbo fazer. 

Paulo Rego

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