Um 10 de Junho de reflexão

por Arsenio Reis

celebração do dia nacional de Portugal, a 10 de Junho, este ano prolonga-se por várias semanas. Ao PLATAFORMA, os inquiridos dizem que é importante continuar a assinalar-se a data, aproveitando a oportunidade para fazer uma festa que inclua as diferentes comunidades e refletir.

Os símbolos são “importantes” e, como tal, as comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas têm o devido lugar. Para Amélia António, os festejos do 10 de Junho — dia de Portugal, Camões e das comunidades portuguesas — são uma oportunidade de reflexão, enquanto Ricardo Pinto destaca a importância de assinalar o momento, incluindo as outras comunidades na festa.

O programa de celebração do 10 de Junho este ano prolonga-se por várias semanas. Segundo explicou, em conferência de imprensa, o cônsul geral de Portugal em Macau e Hong Kong, a ideia é fazer de Junho “um momento de mobilização efetiva, um momento de mobilização conjunta, de vários agentes culturais, de vários agentes económicos e institucionais em torno da promoção de Portugal e também das estreitíssimas relações de amizade e de cooperação que nos unem, a esta Região Administrativa Especial”.

Na opinião de Vítor Sereno, o conceito “Junho, mês de Portugal” deverá constituir um contributo à diversificação da economia do território: “Estamos a contribuir para esta diversificação através de um elencar de eventos culturais e artísticos ligados a Portugal e à cultura portuguesa”.

Assim, as atividades arrancam a 1 de Junho e estendem-se até 30. Às comemorações associa-se a Casa de Portugal, o Instituto Português do Oriente (IPOR), a Fundação Oriente, o Clube Militar e a Livraria Portuguesa. O programa de celebrações conta ainda com o patrocínio do BNU, com o apoio da Fundação Macau e do Instituto Cultural e com a colaboração de outras empresas portuguesas.

Em declarações ao PLATAFORMA, o proprietário da editora Praia Grande Edições, que gere a Livraria Portuguesa, afirma que, “estando Macau tão ligado a Portugal e com uma comunidade portuguesa vibrante e, dada a ligação histórica a Camões, faz sentido celebrar o 10 de Junho”. 

Ricardo Pinto refere que é uma importância simbólica. “Os símbolos têm importância — justamente chamar a atenção para a existência de uma ligação histórica profunda entre Portugal e China, através de Macau, e chamar a atenção para a importância crescente da comunidade portuguesa em Macau”, diz, acrescentando: “Tudo isso não parece que seja desajustado, pelo contrário deve ser apoiado e deve ser uma preocupação central das entidades.”

Sobre a vinda de um representante do Governo de Portugal, Ricardo Pinto defende que acaba por ser o menos importante. “Sim, é importante, mas não é o mais importante. O mais importante é que as celebrações sejam uma grande homenagem à cultura portuguesa, à amizade entre Portugal e China, e a ligação histórica a Macau, e que as pessoas que a promovem saiba transformar isto numa festa”, realça. “O importante é que a comunidade portuguesa de Macau e que as restantes de Macau estejam também associadas a estes festejos; é importante que comunidade portuguesa atraia as outras para as celebrações, que o saiba fazer e que saiba transformar os festejos numa autêntica festa e homenagem”, acrescenta.

Ricardo Pinto elogia também a extensão dos festejos por um mês. “Penso que é uma feliz ideia procurar que as celebrações não se fiquem pelo dia 10 de junho e que se estendam por mais dias — fica tudo a ganhar com uma maior projeção ao longo do mês, tanto mais que, tendo assistido a outros países com celebrações idênticas em Macau e que têm justamente essa dimensão, sem que tenham a mesma ligação histórica a Macau como tem Portugal.”

Assim, a Livraria Portuguesa irá também associar-se às celebrações, promovendo a Mostra do Livro Português, com preços especiais para os clientes, além de assegurar “algumas novidades editoriais ao longo do mês — relacionadas com Camões, Portugal e o Euro 2016 [campeonato Europeu de futebol]”, diz Ricardo Pinto.

Não é uma formalidade

A presidente da Casa de Portugal, Amélia António, afirma que “não se trata de uma mera formalidade”, por considerar que deve haver “um momento em cada ano em que a comunidade seja mobilizada para pensar um bocadinho em si própria, sobre as necessidades, o país, as expetativas, uma espécie de olhar para a vida, enquanto comunidade e país.” 

Além disso, Amélia António considera “importante” que se mantenha a ligação ao país de origem. “As pessoas não se devem desligar — não olho para isto numa perspetiva de nacionalismos ocos, mas é o momento de mostrar que o 10 de Junho se assinala não apenas com a formalidade, com as coisas tradicionais e muito formais, mas para mostrar um bocadinho mais do que somos e fazemos”, declara. 

Na opinião da presidente da Casa de Portugal, a comemoração do 10 de Junho deve servir para que as pessoas sintam “uma maior presença e ligação a qualquer coisa que é a história de um país [Portugal], que tem tido altos e baixos, mas que tem dado a volta, ao longo de uma história de muitas centenas de anos”.

Para Amélia António, é tempo “de não ter complexos”, olhando de forma “positiva” para a comunidade portuguesa, que reside em Macau. “Do ponto de vista exterior, é um momento sempre e cada vez mais importante para mostrar como o país tem evoluído, e como é a sua modernidade nas várias vertentes”, diz.

Quanto à vinda — ou não — de um representante do Governo de Portugal ao território, a presidente da Casa de Portugal declara: “Essa é a parte menos importante, essa é que a parte formal.” Importaria se o representante do Governo de Portugal viesse “informado e com interesse em informar-se, e não exclusivamente para a cerimónia formal, que tivesse oportunidade de ouvir e falar com as pessoas, tomar a temperatura, perceber o que se passa”. Tratando-se uma visita “meramente formal”, a presidente da Casa de Portugal prefere que nem se pense no assunto. “Estou interessada em coisas úteis e que produzam frutos”, realça. 

Ainda assim, admite que a comunidade se encontra dividida neste ponto. “Muitos portugueses não pensam como eu; há quem se sinta confortado com a parte formal, tenho a noção de que a comunidade se divide, e ainda há aquela percentagem que não quer saber.”

O programa

Até ao dia 12 de Junho, decorre uma retrospetiva individual de pintura da artista Graça Morais, no Clube Militar. Há ainda outras exposições ao longo do mês, nomeadamente uma de cerâmica no Consulado Geral de Portugal, outra de tapeçaria de Arraiolos na Residência Oficial e ainda uma exposição individual pintura da autoria de Natália Gromicho, na Casa Garden. 

Hoje, haverá um concerto da banda portuguesa The Gift, no Centro Cultural de Macau, enquanto, entre 3 e 13 de Junho, o Clube Militar acolhe uma nova edição do Festival de Gastronomia e Vinhos de Portugal.

Além disso, o escritor e antigo jornalista do Expresso José Manuel Saraiva irá estar no território pela primeira vez, a 8 de Junho, para a inauguração da Mostra do Livro Português. 

No que toca ao cinema, Macau vai voltar a receber a extensão do Indie Lisboa 2015. A produtora Portugal Film irá trazer ao território algumas curtas e longas metragens, como a “Balada de um Batráquio”, a curta que venceu o Urso de Ouro em Berlim. Haverá três sessões, de 11 a 13 de Junho, na Cinemateca Paixão. Nas artes performativas, terá lugar a peça de teatro “Meu jantar com André”, traduzida por Jacinto Lucas Pires e interpretada pelos atores Wiborg e Diogo Dória.

No dia 10 de Junho, há lugar às cerimónias tradicionais, incluindo o içar da bandeira no Consulado Geral de Portugal e a romagem à Gruta de Camões.

Luciana Leitão

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