G7 não pode falar por todos

por Arsenio Reis

Cimeira do G7 de 2016, que será realizada em Ise-Shima, no Japão, nos dias 26 e 27 de maio, surge numa altura de crescentes tensões estratégicas na Ásia.

De acordo com a agenda, serão discutidas questões sociais e o crescimento global, assim como assuntos de segurança prementes, incluindo a questão nuclear da República Popular Democrática da Coreia, que o Japão deseja ver refletida numa declaração conjunta do G7.

O quarto teste nuclear de Pyongyang em janeiro, em particular, alimentou preocupações globais sobre uma possível proliferação nuclear na Península Coreana. Contudo, para alguns membros do G7, como os Estados Unidos e o Japão, exaltar a ameaça nuclear da RPDC faz também parte das suas intenções estratégicas.

O Japão, que será o anfitrião dos dois dias de diálogos, está ansioso por conquistar um apoio à sua posição como “estado normal” na comunidade internacional, exaltando a ameaça das armas nucleares da RPDC. Também os EUA estão a realçar os perigos das ambições nucleares da RPDC para justificar o seu reequilíbrio na Ásia-Pacífico.

Ainda assim, a cimeira do G7 que envolve o Canada, a França, a Alemanha, a Itália e o Reino Unido, para além dos EUA e o Japão, continua a não ser uma plataforma apropriada para discutir a questão nuclear da RPDC, que diz respeito à sociedade internacional em geral. Isso explica o porquê de ter sido o Conselho de Segurança da ONU a aprovar as quatro resoluções contra os testes nucleares de Pyongyang.

É certo que o grupo desempenha um papel claro na governação global, contudo, ele foi fundado há mais de quatro décadas para promover a cooperação económica no Ocidente, logo não representa todas as partes implicadas na questão nuclear.

Apenas dois membros do G7, os EUA e o Japão, fazem parte do Diálogo a Seis destinado a desnuclearizar a península, que está estagnado por tempo indeterminado desde 2008. Os outros membros são a China, a RPDC, a República da Coreia e a Rússia.

Qualquer consenso alcançado por líderes do G7 na questão nuclear da RPDC, se acontecer, dificilmente será convincente sem os outros participantes do Diálogo a Seis, podendo complicar ainda mais a situação.

O que todas as partes deveriam fazer era implementar plenamente a Resolução 2270 aprovada pelo Conselho de Segurança da ONU a 2 de março, que inclui sanções económicas contra Pyongyang, assim como medidas destinadas a trazer o assunto de volta à mesa de negociações.

Caso os membros do G7 proponham tomar medidas adicionais de forma independente, o que é provável, a RPDC poderá tentar aumentar a sua defesa nuclear “em resposta às ameaças de segurança do Ocidente”, particularmente dos Estados Unidos.

As crescentes tensões na península são, naturalmente, um resultado das estratégias inadequadas de Pyongyang e Washington assim como a situação de Guerra Fria de várias décadas. Isso não significa, porém, que a declaração conjunta do G7 não possa tocar no assunto da não-proliferação nuclear, dada a mais recente reiteração das ambições nucleares de Pyongyang.

Desde que o supremo líder da RPDC, Kim Jong-un, assumiu o poder há menos de cinco anos, o país já efetuou dois testes nucleares. O 7º Congresso realizado no princípio de maio pelo partido no poder, o Partido dos Trabalhadores da Coreia, foi a primeira grande conferência do partido em 36 anos e indicou também que Pyongyang continuará a perseguir o desenvolvimento de tecnologias nucleares como “potência nuclear responsável”.

Neste contexto, mencionar a não-proliferação na declaração conjunta do G7 incutiria em Pyongyang o facto de que a comunidade internacional não permitirá a existência de um grande arsenal nuclear na Península Coreana.

Por sua vez, a RPDC deveria largar a ilusão de que as manobras diplomáticas e a defesa nuclear consistente evitarão as negociações.

É importante que as nações do G7 se abstenham de ir longe de mais e exacerbar a situação.

Wang Junsheng 

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