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Luís Andrade de Sá – CIÊNCIAS OCULTAS

Um dos mais poderosos patrões da imprensa dos Estados Unidos, Frank H. Ganett, previu, em 1930, que, no futuro, os jornais chegariam “às cem ou mais páginas”.
Muitos anos depois, a versão americana da Vogue fez-lhe a vontade e publicou uma edição histórica com mais de 800 páginas e três quilos e meio de peso. A produção desse número de setembro de 2007 deu até origem a um documentário (“The September Issue”), durante o qual a irritante diretora da revista, Anna Wyntour, se entretém a atirar para o lixo resmas de páginas já produzidas e fotografias assinadas por nomes conhecidos. Anna, que chegou à profissão por mero acaso, é filha de um respeitado jornalista do London Evening News e irmã de um editor de política do The Guardian – mas já toda a gente percebeu qual é o Wyntour que vai ficar para a história.
Mas aqui o que interessa é a convicção manifestada por um homem que conhecia a fundo a indústria, de que, no futuro, os diários não tinham outra alternativa que não a de crescerem no seu número de páginas, até às “cem, ou mais”.
Todos os dias, ouvimos dizer que não há alternativa a isto ou aquilo. Portugal e a Grécia não têm alternativa à troika e Macau não tem alternativa ao jogo, por exemplo. No que respeita a este território, trata-se apenas de uma frase batida. No passado, não havia alternativa aos coolies, ao ouro, ao ópio, às armas, aos fósforos, e até aos portugueses (não necessariamente por esta ordem). Mas o fim da História não está ao virar da esquina e, mesmo contra todas as previsões, o mundo continua a girar.
Só não há alternativa à morte (ainda…) e Ganett não viveu para saber que, excetuando o caso da Vogue americana, os jornais não têm feito outra coisa do que encolherem no seu tamanho e no número de páginas.

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