Início Opinião PAUL KRUGMAN: AS NOTÍCIAS RECONFORTANTES DE 2014

PAUL KRUGMAN: AS NOTÍCIAS RECONFORTANTES DE 2014

 

O famoso colunista americano e vencedor do Prémio Nobel da Economia Paul Krugman publicou no dia 26 de dezembro o artigo de opinião “As Notícias Reconfortantes de 2014”. Neste texto aponta que, apesar do bom desempenho do governo norte-americano em 2014 – desde a sua economia até à reforma do sistema de saúde e relações diplomáticas – as forças e meios de comunicação mais conservadores continuam a ignorar os factos e a tentar denegrir a imagem do governo de Obama.

Talvez seja só eu, mas o ambiente natalício este ano pareceu-me invulgarmente cabisbaixo. Os centros comerciais pareciam mais vazios do que o normal, as pessoas mais deprimidas e havia menos música no ar. De certa forma, não é de surpreender. Os americanos têm sido bombardeados todo o ano com notícias adversas que falam de um mundo fora de controlo e de um governo que não sabe o que há-de fazer.

No entanto, se olharmos para o que realmente aconteceu neste último ano, vemos algo completamente diferente. Entre todo este desdém, várias políticas governamentais importantes funcionaram na perfeição – e os maiores sucessos envolvem precisamente as políticas mais criticadas. Isto é algo que não se diz na Fox News, mas 2014 foi um ano em que o governo, em particular, demonstrou que, quando quer, consegue tomar medidas importantes, e executá-las bem.

Comecemos pelo Ébola, um assunto que desapareceu das manchetes tão rapidamente que é fácil esquecermo-nos do quão generalizado era o pânico há apenas algumas semanas. Julgando pela cobertura mediática nas notícias, particularmente (mas não exclusivamente) nos canais por cabo, a América parecia estar prestes a tornar-se numa versão autêntica da série “The Walking Dead”. Muitos políticos criticaram os serviços de saúde pública pelos seus métodos convencionais de lidar com a doença. Em vez disso, insistiam eles, deveríamos proibir todas as viagens com origem ou destino à África Ocidental, isolar todas as pessoas que tivessem chegado de áreas infetadas e fechar a fronteira com o México. Não faço ideia que sentido faz este último ponto.

No entanto, o resultado foi que, apesar de alguns erros iniciais, os Centros de Controlo e Prevenção de Doenças afinal sabiam o que estavam a fazer, o que não é de espantar: os centros têm muita experiência no controlo de doenças, particularmente epidemias. E embora o vírus do Ébola continue a matar muitas pessoas em algumas partes da África, ainda não houve nenhum surto nos Estados Unidos.Vejamos, em seguida, a situação económica. Não há dúvida de que a recuperação após a crise de 2008 tem sido custosamente lenta, e deveria ter sido muito mais rápida. Em particular, a economia tem sido prejudicada por cortes significativos na despesa pública e no setor do emprego.

Mas a história que ouvimos repetidamente é a de que a política económica é um desastre absoluto, com a alegada hostilidade do Presidente Obama ao setor empresarial a impedir o investimento e a criação de postos de trabalho. Por isso, torna-se surpreendente quando, olhando para os factos, verificamos que o crescimento e criação de emprego têm ocorrido de um modo bastante mais rápido durante a recuperação económica de Obama do que durante a época de Bush (mesmo não tendo em conta a crise). E, embora o setor imobiliário ainda esteja em baixa, o investimento empresarial tem sido bastante forte.

Além disso, dados recentes revelam que a economia está a ganhar força – com um crescimento económico de 5% no último trimestre. Ah, e não que seja muito importante, mas algumas pessoas gostam de afirmar que o sucesso económico pode ser julgado pelo desempenho da bolsa. E os valores da bolsa, que atingiram o ponto mais baixo em março de 2009, com famosos economistas republicanos a alegar que Obama estava a sufocar a economia de mercado, triplicaram desde então. No final de contas, talvez a gestão económica dos Estados Unidos não tenha sido assim tão má.

Finalmente, temos o triunfo “secreto” do Obamacare, que está a terminar o seu primeiro ano de plena implementação. A campanha de propaganda contra a reforma do sistema de saúde tem estado a fazer um ótimo trabalho, exagerando todos os pequenos problemas, sem mencionar que os problemas já foram resolvidos, e inventando fracassos que não aconteceram. De tal forma que muitas vezes me perguntam, incluindo alguns liberais, se a Administração alguma vez conseguirá pôr o programa a funcionar. Aparentemente ninguém lhes disse que está a funcionar, e muito bem.

De facto, o primeiro ano da reforma de saúde superou todas as expetativas. Lembram-se do argumento de que haveria mais pessoas a perder o seu seguro de saúde do que a obtê-lo? Na realidade, o número de americanos sem seguro de saúde diminuiu em cerca de 10 milhões; os membros da elite que nunca estiveram sem seguro não fazem ideia da diferença positiva que isso faz na vida das pessoas. Lembram-se das alegações de que a reforma iria devastar o orçamento? Na realidade, os custos foram muito menores do que o previsto, os gastos em cuidados de saúde estão a abrandar, e as medidas específicas de controlo de custos estão a ser muito bem-sucedidas. E tudo indica que o segundo ano será marcado por ainda mais sucessos.

E há mais. Por exemplo, no final de 2014, a política externa do governo de Obama tem tido bons resultados, tentando conter ameaças como o presidente russo Vladimir Putin ou o Estado Islâmico em vez de se apressar para um confronto militar.

O tema comum é que o governo norte-americano neste último ano, no meio de constantes críticas, acusações de ineficiência, ou pior, tem, na verdade, conseguido superar várias dificuldades. Em vários aspetos, o governo não era o problema, era a solução. Ninguém o sabe, mas 2014 foi o ano do “Yes, we can” (Sim, conseguimos).

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