Addy Chan * – ABRIR A PORTA PARA A COOPERAÇÃO DE ENGENHARIA ENTRE A CHINA E PORTUGAL

por Arsenio Reis

 

Era uma vez Macau, uma cidade pequena, com pouca procura e necessidade limitada de profissionais de engenharia. Não existia, então, qualquer oferta local em termos de engenharia a nível universitário, pelo que os jovens de Macau que pretendessem obter uma formação superior tinham de demandar outras paragens. Preferencialmente, os alunos locais candidatavam-se às universidades do Interior da China, Taiwan e Portugal, sendo que, embora em número reduzido, merecem também menção o Japão, os E.U.A e o Canadá. Este contingente de futuros engenheiros era suficiente para ir dando resposta, em cada momento, às necessidades do mercado e ao nível de desenvolvimento do território.

Em 1989, este panorama alterou-se com a definição da Faculdade de Ciências e Tecnologia na Universidade da Ásia Oriental, que viria a dar origem à Universidade de Macau. Esta transformação representaria também a substituição do modelo britânico por um modelo coerente com a administração portuguesa de Macau. Para além da aproximação aos cursos das universidades portuguesas, o desenvolvimento dos cursos, mediante a integração de docentes e experiências do Interior da China, consolidou uma espécie de mistura entre as engenharias e tecnologias de matriz portuguesa e chinesa. As transformações que ocorreram desde então no modelo económico de Macau determinaram sempre que necessário a reforma dos curricula da Faculdade de Ciências e Tecnologia.

Esta pequena Macau, por outro lado, passou por um processo gradual e consistente de internacionalização. A Região Administrativa Especial de Macau, que ocupa o quarto lugar no ranking mundial em termos de PIB per capita, tem vindo, também gradualmente, a elevar as exigências em termos de formação académica e profissional dos engenheiros locais de modo a que possam responder pelos padrões e normas internacionais. Deve salientar-se que há alguns anos já, três licenciaturas na esfera das engenharias – Civil, Electro-mecânica e Electrónica-computadores – tiveram acesso ao “Acordo de Washington”, mecanismo que abre aos licenciados de Macau a possibilidade de aceder ao mercado de trabalho em mais de 20 países ou regiões. E sublinhe-se que, nos últimos anos, têm sido frequentes os prémios internacionais obtidos pelas universidades de Macau. O 12.º plano quinquenal da República Popular da China definiu o posicionamento de Macau como o de uma plataforma para o intercâmbio e a cooperação entre a China e os países de Língua Portuguesa. A RAEM dispõe de condições particulares e vantagens comparativas óbvias, pelo que que deve aproveitar esta plataforma também no domínio da internacionalização e do ensino das engenharias.

A formação profissional dos engenheiros de Macau deve manter laços fortes com as instituições do Interior, mas deve apostar-se também na cooperação com os países lusófonos. Orientando-a para a investigação e envolvendo universidades, laboratórios e instituições, chineses e dos PLP. A dimensão do mercado chinês e do conjunto dos mercados dos países de língua portuguesa pode viabilizar o aproveitamento dos resultados da investigação e inovação realizados nas universidades locais.

Em termos relativos, é a cooperação científica (académica) aquela que representa o crescimento mais significativo entre as diversas áreas  da plataforma de cooperação geral entre a China e Portugal. Todavia, para assegurar o papel desta plataforma não é suficiente a existência de uma definição formal e política da cooperação…é necessário ‘talento’. Por exemplo, a Universidade de Macau integra no seu corpo discente alunos oriundos do Interior da China e de outras origens. Com base nesta experiência, poderia a UMAC dotar-se das condições necessárias para atrair mais estudantes dos países lusófonos de molde a que a universidade possa funcionar como  um ‘berço’ sino-lusófono de engenheiros. Os alunos de Macau e do Interior aprendem e crescem no intercâmbio com os colegas dos PLP. Compreender o outro é estabelecer laços de amizade para sempre.

O ensino da engenharia não se resume à componente lectiva, pois deve considerar-se igualmente a formação profissional. Nos últimos anos, verificam-se, por um lado, significativos avanços tecnológicos, em quantidade e qualidade, e, por outro, multiplicam-se os padrões e quadros regulamentares nos diferentes países. Deste modo, compreende-se bem que se exige hoje a um engenheiro uma formação contínua. Uma formação profissional sem restrições geográficas, tendo presente que os países africanos usam os padrões europeus, que são as referências de Portugal, e que a cooperação entre a China e África tem crescido substancialmente nos últimos anos.

O aprofundamento da cooperação científica, incluindo a vertente profissional, entre a China e Portugal, pode a curto prazo desenvolver e consolidar as plataformas de cooperação com base na RAEM. Esta é uma oportunidade de ouro para maximizar as vantagens comparativas de Macau, sendo que esta experiência no domínio das engenharias pode expandir-se para outras áreas de especialização na paltaforma de cooperação profissional entre a China e Portugal.

 

*O engenheiro Addy Chan é natural de Macau (1981), e aqui exerce a sua atividade profissional. Detém uma licenciatura em engenharia electro-mecânica pela Universidade de Macau e um MBA pela Universidade de S. José.

 

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