MAIORIA DAS CANDIDATURAS AO FUNDO CHINA-LUSOFONIA É DE INICIATIVA CHINESA

por Arsenio Reis

 

A maior parte dos cerca de 40 projetos que se candidataram no último ano ao Fundo de Cooperação China-lusofonia é de iniciativa chinesa, disse ao Plataforma Macau fonte do Banco de Desenvolvimento da China. Só um, em Moçambique, já está em curso e outro, previsto para Angola, obterá luz verde até ao início de 2015.

 

Entre 30 a 40 projetos foram submetidos à apreciação do Banco de Desenvolvimento da China desde o ano passado, quando foi operacionalizado um fundo de 1000 milhões de dólares para a cooperação com a lusofonia, disse ao Plataforma Macau fonte daquela instituição, segundo a qual a maioria envolve empresas chinesas que querem investir em mercados lusófonos com parceiros locais.

“A maior parte das candidaturas são de empresas chinesas para investimentos em países de língua portuguesa com parceiros locais, nomeadamente na área da agricultura e manufatura”, explicou.

A equipa responsável pela gestão do Fundo de Cooperação para o Desenvolvimento entre a China e os Países de Língua Portuguesa, sedeada em Pequim, “tem estado a acompanhar 30 a 40 projetos, mas só dez a 15 é que foram selecionados e estão a ser analisados”. “Só um já recebeu financiamento e outro, para Angola, deverá ser aprovado no final do ano ou no início do próximo”, indicou a fonte daquela que é a maior instituição financeira da segunda economia mundial a apoiar a cooperação externa, que gere pelo menos sete fundos que operam em 38 países.

O único projeto já a beneficiar do fundo tem lugar em Moçambique, tratando-se do parque agrícola que está a ser montado pela empresa chinesa Wanbao na região do baixo Limpopo, perto da cidade de Xai-Xai, a 200 quilómetros de Maputo. Este parque implica um investimento na ordem dos 190 milhões de dólares, tendo o fundo chinês contribuído com 10,65 milhões.

O outro projeto que obterá financiamento em breve envolve a produção de suportes de fios elétricos e tubos PE para iluminação pública em Angola.

De acordo com a fonte do Banco de Desenvolvimento da China, há projetos em avaliação “para quase todos os países lusófonos”, no entanto, Brasil e Portugal ainda não têm investimentos candidatos. “No Brasil e em Portugal estabelecemos apenas contactos com instituições financeiras e empresas”. A mesma fonte lembrou que a primeira parcela do fundo de 1000 milhões de dólares que foi desbloqueada ascende a apenas 125 milhões de dólares, o que faz com que “não haja capacidade para apoiar certos projetos” que envolvam investimentos maiores.

O presidente da Associação de Jovens Empresários Portugal-China (AJEPC), Alberto Carvalho Neto, disse ao Plataforma Macau que “uma corticeira portuguesa realizou reuniões com o fundo, tendo acabado por não submeter a candidatura, uma vez que a mesma não colheria aprovação”, defendendo uma flexibilização das regras de aprovação dos projetos. “No sentido de os projetos serem de mais fácil aprovação ao invés de terem uma lógica predominantemente de private equity, que é tipicamente muito exigente nos seus critérios”, sustentou.

Ao fundo não chegaram ainda quaisquer projetos de investidores de Macau. “Mas temos tido contactos com potenciais e vamos trabalhar juntos para encontrar oportunidades, tanto com Macau como com as instituições lusófonas sedeadas na Região”, disse fonte da equipa de gestão do fundo, manifestando o desejo de que “mais projetos sejam submetidos futuramente”.

 

IMOBILIÁRIO EXCLUÍDO

Empresas de todo o tipo da China (incluindo Macau) e dos países lusófonos podem candidatar-se ao fundo para apoios a investimentos nos seus territórios em áreas de interesse comum, como infraestruturas, transportes, telecomunicações, energia, agricultura, entre outros. “O fundo só não pode ser investido em bens imóveis”, salientou fonte da equipa de gestão.

Uma vez que este fundo poderá ser utilizado, além do crédito, para investimento de capital em empresas com elementos de cooperação sino-lusófona, “o volume total de investimento tem de se situar entre os cinco e os 20 milhões de dólares e a participação do fundo não poderá ultrapassar 40% das ações”. De resto, indicou a mesma fonte, “todos os projetos são bem-vindos, não havendo a exigência de joint-ventures com empresas chinesas”.

Essencial para que um projeto seja aprovado e de forma célere, acrescentou, é a apresentação de “documentação o mais completa possível”, incluindo plano de negócios e estudo de viabilidade. “Normalmente os investidores apresentam apenas uma breve descrição do projeto e quando pedimos informação mais detalhada dizem que ainda não a têm e, por isso, não podemos avançar com a análise, mas quanto mais completa ela for, mais rapidamente tomamos uma decisão”.

O fundo, anunciado em 2010 pelo Governo chinês e que é comparticipado pelo Banco de Desenvolvimento da China e pelo Fundo de Desenvolvimento Industrial e de Comercialização de Macau, tem a sua operação e gestão a cargo da equipa do Fundo de Desenvolvimento China-África, sob a dependência daquela instituição financeira chinesa. Esta situação, segundo uma fonte desse grupo de trabalho, deve-se à “experiência do banco no continente africano, onde tem parceiros locais e uma representação, e ao facto de muitos países lusófonos estarem em África”.

O Governo de Macau já injetou 50 milhões de dólares no fundo China-lusofonia e existe um “mecanismo regular de comunicação com o Secretariado Permanente do Fórum Macau, que emite recomendações sobre estratégias de investimento dos países lusófonos e contacta com os empresários desses mercados”.

 

Patrícia Neves

 

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