“A MENSAGEM ESTÁ A PASSAR E TEM IMPACTO”

por Arsenio Reis

 

Rita Santos garante que há cada vez mais empresários chineses interessados em investirem nos países lusófonos e que Macau se sente bem no papel de plataforma. A coordenadora do Fórum Macau explica que o apoio de altos dirigentes, quer na China quer na Lusofonia, está a convencer os empresários.

 

PLATAFORMA MACAU – Apesar dos protocolos e dos negócios anunciados, há empresários que lamentam que a Feira Internacional de Macau tenha poucos visitantes. É possível fazer mais?

RITA SANTOS – Este foi o ano em que o pavilhão dos países de língua portuguesa teve maior participação de empresários e das autoridades lusófonas. Mas foi também o ano em que houve mais visitas a esses stands. Providenciámos a presença de estudantes lusófonos em Macau e de estudantes chineses bilingues, que ajudaram nos contactos. Cada empresário presente preencheu uma ficha para que os delegados lusófonos possam responder a questões sobre oportunidades de investimento, de exportação e importação de produtos. Vamos agora fazer o acompanhamento desses processos.

 

P.M. – Como é que olha para a evolução desses contactos na última década?

R.S. – Após o anúncio da criação de três centros lusófonos em Macau (produtos alimentares, convenções e apoio a pequenas e médias empresas), na IV Conferência Ministerial do Fórum Macau, sinto que há mais interesse por parte dos empresários chineses. Posso citar o exemplo de um empresário do interior da China, que visitámos durante a semana dinâmica, que montou aqui um stand para expor umas janelas especiais que quer exportar. Ligou-nos a pedir que encaminhássemos para lá alguns delegados e, no final, ficou contente com os contactos que estabeleceu.

 

P.M. – Porque liga esse interesse ao anúncio dos centros lusófonos em Macau?

P.M. – Foi importante o anúncio ter sido feito pelo vice-primeiro-ministro, Wang Yang, como é importante a grande promoção que tem sido feita pelo Governo da RAEM.

 

P.M. – A mensagem está a passar?

R.S. – Está a passar e tem impacto.

 

P.M. – Qual é a importância dos eventos culturais na promoção da plataforma de negócios?

R.S. – Organizámos várias atividades da semana cultural, com a vinda de artistas de todos os países de língua portuguesa, incluindo São Tomé e Príncipe, Goa, Damão e Diu. Estive presente em todas elas, nomeadamente no Largo do Senado, onde vi muitos residentes e turistas a assistirem aos espetáculos. Isso também se deve, diga-se, à promoção feita pelo Turismo de Macau. Alguns residentes confidenciaram-me que já tinham visto no ano passado e voltaram porque gostam de sentir que Macau é um palco de concentração de todas essas culturas. Ao longo dos 11 anos podemos concluir que a cultura dos países lusófonos faz parte da vida de Macau. Até vi chineses, que normalmente são muito acanhados, dançarem na rua com moçambicanos, cabo-verdianos e portugueses. Gostei, como gostei da exposição de pinturas que refletem a vida atual de Angola, ou a que espelha motivos de Moçambique. Há pessoas de Macau que nunca tiveram oportunidade de ver este tipo de exposição e gostaram muito. Queremos também que artistas de Macau possam conviver com os artistas lusófonos. Penso que em Macau pode desenvolver-se uma arte única no mundo, que junta motivos da China, de Macau, da África portuguesa, do Brasil e de Portugal.

 

P.M. – Porque é que a ponte entre a China e a lusofonia é hoje mais óbvia em Macau?

R.S. – Eu vi o Fórum Macau ainda na fase de embrião, a sair do ovo; agora já está na fase da adolescência. Há muita promoção do Governo de Macau, das associações de língua portuguesa e também das associações comerciais de matriz chinesa. Sinto que estão a adotar o projeto como se fosse deles – isso é bom. Nos primeiros anos estavam numa posição de observação, mas depois de quatro conferências ministeriais, sente-se que os dirigentes de alto nível, na China e na Lusofonia, dão apoio total ao papel de Macau enquanto plataforma. Veja que quando os políticos lusófonos vão à China incluem no programa a visita a Macau. Ainda me lembro de ter recebido uma comitiva de ministros com um bem-vindos a Macau! Há que bom ouvir português!, responderam-me. Aqui sentem-se em casa e essa é uma grande sensação.

 

P.M. – A delegação portuguesa na MIF foi significativa, mas também deixou em entrevistas a este jornal a ideia de que o caminho ainda é muito longo e está por cumprir… 

R.S. – As coisas levam tempo, mas o primeiro passo é muito importante. A verdade é que os empresários de língua portuguesa chegam aqui e têm as portas abertas. Vejo no seu jornal o Alberto Neto, que contactou comigo na primeira vez que cá veio. Disse-lhe que constituísse uma associação, porque seria mais fácil ter o apoio do Governo. Fiquei contente de ver agora o grande stand que eles montaram na MIF. Normalmente vêm primeiro sondar, mas depois de nos ouvirem e perceberem que o projeto é viável acabam por trazer mais empresários.

 

P.M. – Há a ideia que a adesão não é a mesma por parte dos empresários chineses…

R.S. – Está muito enganado! Porque é que a China quer agora a criação de uma base de dados de pessoas bilingues? É para poder dar apoio a esses empresários. Recebemos diariamente muitos pedidos do interior da China à procura de quem saiba português para os acompanhar nos países lusófonos. Macau tem empresários que dominam as duas realidades, mas também tem bilingues formados nas nossas instituições de ensino superior. Por outro lado, a plataforma tem várias dinâmicas: os advogados estão a fazer consultadoria, como os bancos, os engenheiros, os arquitetos, as associações dos países de língua portuguesa… Agora estão a desenvolver-se protocolos entre agências de viagens… Já fizemos muita coisa.

 

P.M. – Fala-se cada vez mais na necessidade de voos diretos. Sente que essa é uma falha?

R.S. – Voos diretos são importantes. Mas vamos ter a ponte em “Y”, que nos ligará de carro, em 20 minutos, a Hong Kong. O mais importante é o preço e o acesso a vários aeroportos internacionais aqui perto. Alguns empresários africanos chegam através de Cantão, outros via Tailândia. O que importa é o preço e a facilidade de acesso. Se houver voos diretos melhor, mas as infraestruturas de ligação regional facilitam muito.

 

P.M. – Macau poderá de facto diversificar a sua atividade e alterar a imagem de cidade de jogo? Ou isso é apenas um sonho?

R.S. – Não é um sonho, já é uma realidade! Se for aos websites dos grandes hotéis de Macau verá que todos os meses há várias exposições, conferências e convenções. Antigamente eram só as promovidas pelo Governo, mas agora não organizadas por empresas e entidades privadas. Isso é muito bom, porque os empresários é que devem obter resultados desta plataforma; nós só criamos condições para que possam desenvolver os seus negócios. Acredito que Macau vai gradualmente mudar essa imagem de cidade do jogo.

 

P.M. – O interesse dos empresários chineses continua mais focado em África?

R.S.- O Fórum Macau sempre focou a importância dos projetos trilaterais. Normalmente era a China com um determinado país, mas queremos juntar China, Angola e Portugal; China, Angola e Brasil… Há muitos projetos privados com esse perfil e empresas que abrem em Macau para fazerem parcerias na China e irem para Angola, Moçambique, Timor-Leste ou Portugal. Como o segredo é a alma dos negócios, muitos não os querem divulgar. Mas há cada vez mais abertura por parte dos países de língua portuguesa para a cooperação trilateral e essa é a nossa intenção, incentivando a participação de pequenas e médias empresas e apoiando projetos que ajudem no desenvolvimento dos países lusófonos.

 

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