Paulo Rego – PRESSÃO PARA DIVERSIFICAR

por Arsenio Reis

 

Os governantes portugueses foram claros na mensagem que deixaram no decurso da Feira Internacional de Macau: Miguel Frasquilho, presidente da Agência de Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), aposta nas pontes que Lisboa pode construir entre a China e os restantes Países de Língua Portuguesa; Miguel Araújo, adjunto do secretário de Estado da Alimentação e da Investigação Agroalimentar, revela que os empresários portugueses acreditam cada vez mais no potencial do mercado chinês, mas também no papel que Macau pode desempenhar enquanto plataforma de negócios e de serviços, em particular no setor que representa, que é o que mais cresce entre as exportações portuguesas, com interesse renovado nos mercados fora da Europa. Na mesma senda, o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, tenta atrair o investimento chinês num contexto municipal. Há muito caminho a percorrer para dar cimento a estas pontes, que há muito fazem sentido estratégico. Mas é um facto que os discursos oficiais são agora muito mais firmes e conscientes do que eram há dez anos.

As crises económicas têm por vezes este condão de despertar políticos e empresários para realidades antes adormecidas. Portugal tem urgência na busca de novas oportunidades, prestando por isso muito mais atenção aos mercados emergentes. Para o bem e para o mal, esse estado de necessidade ainda não se fez sentir em Macau. Para além da catarse histórica incompleta e da tentação inicial de virar costas à antiga potência administrante, a ilusão de que a diversificação económica seria um desígnio menor bloqueou também uma adesão eventualmente mais consistente e eficaz ao projeto lusófono chinês. O sucesso da liberalização do jogo e os lucros milionários em torno da especulação imobiliária monopolizaram todas as atenções, deixando o discurso político a perorar como uma espécie de pequena fonte conceptual que foi secando no deserto dos interesses reais. Mas também neste campo há notícias frescas e boas: ao regressar da China, onde foi discutir a composição do futuro Executivo, Chui Sai On considerou natural a retração no crescimento das receitas do jogo. O chefe do Executivo desdramatizou esse ajustamento na indústria do jogo, aproveitando para chamar a atenção para a necessidade de as atenções serem focadas noutros setores da economia.

Numa cidade de dimensões tão reduzidas, com menos de 600 mil habitantes, não faz qualquer sentido pensar no setor primário ou no secundário. Ou seja, a diversificação económica depende da modernização e internacionalização do terciário, surgindo a integração regional e a ponte para a Lusofonia como universos naturais para o desenvolvimento da sociedade de serviços. É evidente para a China, como para a maioria dos Países de Língua Portuguesa, que nem uns nem outros dependem de Macau para concretizar esse caminho estratégico. Cabe por isso a Macau afirmar-se como um mercado qualificado e competitivo na construção dessas pontes, encarando-as como uma oportunidade que não pode ser desperdiçada. Seja qual for a dinâmica de evolução do jogo e do imobiliário, é também óbvio para todos que os resultados da diversificação económica serão apenas residuais na contabilidade do Produto Interno Bruto. Por isso, a questão em Macau é sobretudo de natureza política. Se alguma crise se faz sentir verte-se nas críticas de Pequim pelo incumprimento de um desígnio nacional traçado para a Região Administrativa Especial de Macau. Essa é a pressão – e não económica – que faz mover o poder local. Mas não chega. Resta ainda encontrar a mola propulsora que faça a sociedade civil projetar os horizontes que se abrem na via lusófona.

 

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