RESTAURANTES DE MACAU ATRAEM CADA VEZ MAIS TURISTAS

por Arsenio Reis

 

‭ ‬Cada vez mais chefes internacionalmente reconhecidos piscam o olho a Macau e cada vez mais restaurantes locais veem a sua qualidade reconhecida por especialistas e consumidores. A despesa dos visitantes com serviços extra jogo está a aumentar e players do mercado acreditam que a restauração tem uma palavra a dizer na diversificação da economia local.

 

Ainda são poucos os chefes de cozinha famosos com restaurantes de portas abertas em Macau, comparando, por exemplo, com a vizinha Hong Kong, onde só no último mês e meio inauguraram espaços com a assinatura de Gordon Ramsay e de Jamie Oliver.

Singapura, onde também existem casinos, e Las Vegas, que Macau ultrapassou há mais de cinco anos como a capital mundial do jogo, têm gerado um maior volume de receitas com serviços como o entretenimento e restauração de luxo do que com as apostas.

Em Macau, o jogo continua a ser o motor da economia local, atraindo grande parte dos cerca de 30 milhões de visitantes que entram no território anualmente. As despesas dos turistas não relacionadas com as apostas aumentaram cerca de 13% no primeiro semestre para 4.000 milhões de dólares e as receitas do jogo também registaram uma subida na ordem dos 13%, mas para 24 mil milhões de dólares.

Em 2006, Pequim estabeleceu uma meta para Macau: a diversificação económica. Desde então, o território procura desenvolver o turismo, promover conferências e exposições e indústrias criativas e culturais.

Posicionar Macau como um centro mundial de turismo e lazer é a aposta do Governo local, por isso, tem vindo a alertar as operadoras de jogo de que o investimento em mais serviços fora dos casinos será uma das principais questões que vai levar para a mesa das negociações com vista à renovação das licenças, que expiram entre 2020 e 2022.

Por esta razão, as concessionárias estão a dar ênfase a esta componente extra jogo nos seus projetos em construção no Cotai, tendo ainda em mente mais mesas de apostas nos seus casinos que foram prometidas em troca desse investimento.

Restaurantes de luxo têm sido uma das apostas dos grandes empreendimentos de jogo, que têm vindo a multiplicar nos últimos anos o número de espaços de fine dining, cada vez mais reconhecidos internacionalmente e prova disso é o aumento do número de estrelas Michelin que Macau tem conquistado.

 

MACAU EM ALTA

A estratégia das operadoras tem passado por explorar, e aliar, a importância da comida para os chineses, o desenvolvimento económico que a China tem registado e o facto de o jogo VIP gerar cerca de dois terços das receitas dos seus casinos. Esta visão tem resultado na abertura de restaurantes cada vez mais sofisticados e na contratação de chefes cada vez mais reconhecidos. O mercado está, porém, ainda a dar os seus primeiros passos, mas já dá sinais do seu potencial.

“A restauração em Macau está em alta, em termos de competitividade julgo que é semelhante a Hong Kong, temos capacidade para competir com este mercado e acredito que estará ao mesmo nível dentro de alguns anos”, disse ao Plataforma Macau Vipul Kapoor, gerente do The Golden Peacock, o único restaurante indiano com uma estrela Michelin na Ásia, e o 9.º no mundo, conseguida em dezembo do ano passado ao fim de apenas dez meses de operação.

Com 18 anos de experiência em restauração na Índia e em Hong Kong, Vipul Kapoor constata que o mercado de Macau, onde chegou há quase dois anos, “é bastante variado”. “Temos restaurantes de massas e cada vez mais de fine dining, mas a maioria destes está em empreendimentos de jogo e trabalha mais os clientes dos casinos”, explicou. De acordo com o responsável, a maior parte destes restaurantes de luxo vive sobretudo de uma clientela de apostadores VIP e “são os departamentos de jogo que pagam a sua conta”. Por isso, observou, “o setor não se aguenta neste momento independentemente do jogo”.

No entanto, o The Golden Peacock tem sobretudo como clientes os turistas indianos, a par dos locais e visitantes de Hong Kong. “Acabamos por ser uma parte muito importante da sua viagem, não somos a sua única motivação, mas uma parte importante”, garantiu.

Dos 21 milhões de turistas que Macau recebeu até agosto, 0,5% eram provenientes da Índia, de onde partem para Hong Kong diariamente dez voos diretos e que foi o quarto mercado emissor de visitantes para o território, depois da China continental, de Hong Kong e Taiwan.

No futuro, defende Vipul Kapoor, “com o desenvolvimento que Macau está a registar, mais pessoas certamente visitarão a Região atraídos pelo entretenimento e pelos restaurantes, nomeadamente de outras partes da Ásia, da Europa, Austrália e da Índia”. “Vemos um aumento no número destes visitantes”, acrescentou.

Para este responsável, as estrelas Michelin que os restaurantes locais têm conquistado e que têm elevado o seu prestígio, bem como dos empreendimentos onde se inserem, “ajudam a atrair mais turistas e clientes de alto nível, sejam jogadores ou executivos de grandes empresas, porque há muitos eventos de MICE a acontecer”.

O The Golden Peacock situa-se no Venetian, empreendimento da Sands China, que é a operadora que arrecada o maior volume de receitas em serviços extra jogo, que ascenderam a 503,8 milhões de dólares no primeiro semestre e representam cerca de 10% das receitas totais da empresa.

 

SERVIÇOS EM LINHA

Phoebe Lee, gerente do Golden Flower, no Wynn, com duas estrelas Michelin, salientou, em declarações ao Plataforma Macau, que, “com base nas tendências do negócio dos casinos, muitas empresas têm vindo a oferecer aos hóspedes uma linha de serviços que inclui jogo e restauração, por exemplo”. “Acredito que esta indústria está a crescer, porque os visitantes sentem-se especialmente atraídos por serviços de grande qualidade”, disse.

Apesar de constatar que “o jogo é uma das principais razões pelas quais os turistas vêm a Macau”, Phoebe Lee, que chegou de Singapura há dois anos e meio, considera que os restaurantes têm conseguido atrair também alguns visitantes. “Há vários restaurantes que têm conseguido estrelas Michelin, então as pessoas gostam de vir aqui pelo prestígio desses espaços e para experimentar a sua comida”, sustentou.

É o caso, apontou, da cozinha chinesa do Golden Flower, que “tem clientes que querem conhecer a cidade e têm interesse em experimentar bons restaurantes e não vêm só pelo jogo”.

Phoebe Lee considera que o mercado turístico de Macau está a começar a despertar para outras atrações além do jogo e diz ter “a certeza de que pode competir com Hong Kong”, prevendo uma aposta futura cada vez mais forte no fine dining.

Segundo dados oficiais, 49% da despesa per capita dos visitantes de Macau (excluindo o jogo) no segundo trimestre foi registada em compras, 26% em alojamento e 19% em alimentação. Os turistas de Hong Kong foram os que gastaram mais em alimentação no território (34% da despesa total per capita).

Um estudo do Instituto de Formação Turística divulgado este ano concluiu que as compras é o que mais atrai os visitantes de Macau, seguindo-se o património mundial classificado pela UNESCO e depois a gastronomia.

 

Patrícia Neves

 

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