Luís Sá de Andrade – MARINA

por Arsenio Reis

 

Mulher, pobre e preta. Três condições “imperdoáveis” para uma candidata presidencial. Mesmo no Brasil, onde o que mais abunda são mulheres, pobres e pretas.

Bom, Marina já não é pobre. Aliás, o que Marina mais é, é o que já não é. Já não é do PT, é apoiada pelo PSB, mas os do PSB nem a podem ver. Já não é exatamente daquela esquerda, é uma “neoliberal”, segundo os comunistas que apoiam Dilma.  Já não é católica, fação Teologia da Libertação, é  da Assembleia de Deus; já não é a viúva de Chico Mendes, é a “viúva” de Eduardo Campos; Já não é Marina, é Marina Silva.

E é esta mulher, que parece despojada do seu passado, que todos os dias se reinventa, para o bem e para o mal, que mais tem sido execrada na atual campanha eleitoral para a Presidência do Brasil. A ela não se perdoa nada.

“Está ficando cada vez mais claro que Marina tem um projeto pessoal de ser Presidente, custe o que custar”, asseverou o grande intelectual brasileiro Leonardo Boff, do alto do seu penteado tipo Maio de 68. Então e os outros? Dilma e Aécio não têm um projeto pessoal de poder? Estão ali a passar o tempo?

Marina é acusada de ser  “evangélica” (também Martin Luther King o foi, e depois?), de ter mudado de opinião e de agora ser contra o aborto e o casamento homossexual. Como se os 15 anos que o PT leva de poder não fossem suficientes para uma solução legislativa das duas situações. Em 2010, Dilma Rousseff, uma mulher corajosa que pagou um alto preço pelo seu empenho contra a ditadura, manifestou-se contrária à prática do aborto ¬ “Sou pessoalmente contra o aborto e defendo a manutenção da legislação atual”, declarou na campanha de há quatro anos, e não houve nenhum drama.

Marina tem na campanha uma herdeira do Banco Itaú, acusam os mais sensíveis, curiosamente ligados ao mesmo PT enterrado até ao pescoço no “mensalão” e cujos governos não inverteram nenhuma das “horríveis” privatizações que herdaram de Fernando Henrique Cardoso. O mesmo FHC que promoveu a bancarização da economia brasileira, apoiado por pessoas como Aécio, que agora se indignam com a “presença” do Itaú.

Provavelmente, Marina não vai vencer as eleições e o Brasil ficará melhor servido, mas não deixa de ser significativo o ‘complot’ que se instalou contra a candidata, alicerçado por jornais “de referência”, como a Folha de S. Paulo. Por isso, é ainda mais penoso ver um dos grandes partidos de esquerda da América Latina, o PC do B, alinhar neste discurso, aparentemente a troco de continuar a partilhar o poder, o que, no seu caso, tem significado a nomeação de apenas um ministro e com uma pasta irrelevante, a do desporto.

Se Dilma ganhar, e esse é capaz de ser o mal menor, o PT caminhará para 20 anos de poder. Como se diz no futebol as contas fazem-se no fim, mas o balanço dos anos de Lula corre o risco de se dissipar, perante o cada vez mais intolerante discurso do seu partido, que, tal como o velho conhecido PRI mexicano, parece cada vez mais “institucional” e menos “revolucionário”.

 

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