João Francisco Pinto foi eleito para a Presidência do departamento de informação da Asian Pacific Broadcasting Union, organização que partilha conteúdos, formação profissional e conhecimento tecnológico entre os seus membros. É um “reconhecimento” e “projeta Macau” internacionalmente, comenta o diretor de informação da TDM, numa entrevista em que descreve a organização e objetivos deste mandato.
PLATAFORMA MACAU – Quais são os objetivos da Asian Pacific Broadcasting Union e o que está na génese do envolvimento da TDM?
JOÃO FRANCISCO PINTO – A ABU reúne estações de televisão e rádio de uma região que se estende do Médio Oriente até ao Pacífico. Meio mundo e, provavelmente, mais de metade da população mundial. Dentro da organização há vários departamentos e um deles chama-se Asia Vision, que é o da informação, onde se faz a gestão de tudo o que diz respeito, nste caso, à cooperação entre estações de televisão. Fazem parte da ABU cerca de 30 estações de televisão. A que está mais a ocidente é a Turkish Radio Television (TRT) e a mais a leste está nas ilhas Fiji.
P.M. – Quais são as mais relevantes?
J.F.P. – A NHK, do Japão, é um dos maiores sistemas de televisão do mundo, tem um dos maiores orçamentos e está à frente na investigação científica e na inovação tecnológica – por exemplo, são os pioneiros das emissões em alta definição. A KBS, da Coreia do Sul, é também muito avançada; a CCTV é um império televisivo e os iranianos também são muito fortes. Depois temos muitas estações de pequenos países ou territórios. Nepal, Butão, Maurícias…
P.M. – Qual é a dimensão relativa da TDM nessse quadro?
J.F.P. – Pequena/média.
P.M. – Como é que um representante da TDM chega à presidência, ainda que coletiva, da área de informação?
J.F.P. – A TDM faz parte da Asian Vision há seis anos. Em 2003 criámos o TDM News, o nosso programa de informação em língua inglesa, que tem um telejornal diferente do do canal português. Tem públicos diferentes, outros critérios editoriais e procura informação em outras geografias. A nossa grande aposta tem sido na informação local, mas damos também grande importância ao noticiário da Ásia, especialmente o das regiões que nos estão mais próximas. Contudo, as grandes agências de informação produzem informação asiática episodicamente e sem uma visão local; ou seja, quando há qualquer coisa que tenha interesse global.
P.M. – Geralmente crises…
J.F.P. – Exctamente. Uma pequena estação como a TDM ultrapassa isto tendo acesso a conteúdos produzidos por televisões de outros países. Esta é a lógica da nossa adesão à Asian Vision, aderindo a uma plataforma onde partilhamos conteúdos com países como o Vietname, a Indonésia ou o Nepal, numa base diária – e não esporádica.
P.M. – Quantas notícias estão diariamente disponíveis nessa plataforma?
J.F.P. – Cerca de 40.
P.M. – Tem servido também para projetar conteúdos de Macau?
J.F.P. – A nossa ideia é colocar nest plataforma conteúdos que possam ter relevância para esses países. Por exemplo, partilhámos a história da apreensão em Macau de relógios que iam ser enviados para países do sudeste asiático. É o exemplo típico de uma história com potencial para interessar esses países. Entre Janeiro e Julho deste ano enviámos 16 histórias. Pode parecer pouco, se compararmos com o Irão, que mandou 958. Mas aí estamos a falar de um país enorme, com uma agenda geoestratégica, que utiliza esta plataforma para dizer ao mundo quais são os seus interesses. Enviam muitas histórias sobre a Síria, Gaza, as negociações em torno do projeto nuclear… e muitas histórias anti-americanas.
P.M. – Sente-se na Ásia em geral essa tendência anti-americana?
J.F.P. – Não.
P.M. – Pode falar-se numa cultura mediática asiática, analisando os conteúdos dessa plataforma?
J.F.P. – Não. Ao contrário do que se passa na Europa, onde somos mais ou menos todos iguais, aqui estamos a lidar com países de geografias muito distintas, com questões domésticas, políticas e religiões muita diferentes.
P.M. – Qual é a televisão que mais surpreende, em termos tecnológicos, profissionalismo e qualidade dos conteúdos?
J.F.P. – O Japão e a Coreia do Sul estão muito à frente, até na abordgem aos assuntos e na independência que as suas histórias revelam.
P.M. – A CCTV tem uma forte estratégia de internacionalização. Nota-se isso nesta plataforma?
J.F.P. – Os conteúdos que colocam aqui – duas a três histórias por dia – são os mesmos do canal inglês da CCTV. Habitualmente há uma história sobre um parceiro asiático de visita à China, outra de um acidente, um destastre, e uma terceira sobre cultura e tradição. O Japão, por exemplo, tem uma estrutura de envio muito semelhante.
P.M. – Voltemos ao percurso da TDM e à chegada à presidência da Asian Vision…
J.F.P. – Desde início representei a TDM nas reuniões, colaborando ativamente no desenvolvimento do projeto. Tem havido várias mudanças positivas, como a da partilha de conteúdos via internet, porque quando o envio era feito apenas por satélite, era tão caro que nós recebíamos mas nem sequer enviávamos. Fomos sempre colaboradores interssados no desenvolvimento e na organização da plataforma de partilha e, nos últimos anos tenho-me envolvido mais profundamente em diversas ações de formação e seminários. Uma das últimas ações foi sobre serviço público para minorias, que é no fundo o que a TDM está a fazer, mas também já falei, por exemplo, sobre a gestão de redações bilingues, que é outro tema forte na Ásia. Nesta última reunião, que se realizou na Turquia, havia a necessidade de eleger a nova liderança do News Group e acabei por ser eleito com o apoio claro do Japão, da Coreia e da CCTV – que é um importante parceiro da TDM.
P.M. – É um prémio pessoal e para a TDM?
J.F.P. – A presença da TDM em organizações internacionais é importante para Macau e o reconhecimento do nosso papel projeta também o nome de Macau. É a demosntração de que existe cá um serviço público seguro, de qualidade, credível e produzido em quatro línguas, que é algo que poucas estações públicas conseguem fazer.
P.M. – Para além do reconhecimento, o cargo pode ter efeitos práticos para a TDM?
J.F.P. – Há o reconhecimento da competência da TDM e das pessoas que a representam; isso é óbvio. O que eu disse após a nomeação é que quero falar em nome das pequenas estações de televisão, que durante 30 anos tiveram uma voz ténue. Além da troca de informação, a Asian Vision oferece formação pofissional, envia jornalistas de pequenas emissoras para estagiarem noutros países, em estações de maior dimensão e tem um papel importante na troca do conhecimento e na modernização tecnológica. Quero dar novo impulso a essas áreas, que beneficiam estações de menor dimensão.
P.M. – Quais são os outros objetivos desta presidência?
J.F.P. – Aumentar a nossa dimensão, atingindo pelo menos os 40 associados, aumentar o número e a relevância das histórias trocadas – nesta altura cerca de 940 por mês. Menciono a título de exemplo países como as Filipinas, o Paquistão ou a Nova Zelândia, que queremos integrar neste projeto. Temos dois candidatos praticamente a entrar das antigas repúblicas soviéticas, mas não temos ainda o Cazaquistão, que é provavelmente o mais importante daquela banda de países. Não temos ainda nenhum estado árabe – o Irão é persa. Outro dos desafios é o da potencial de adesão de países não asiáticos. Isto aconteceu com a Eurovisão, que tem já muitos membros que, não sendo europeus, têm interesse nos conteúdos europeus.
Paulo Rego