NOVO PARADIGMA DO INVESTIMENTO CHINÊS NOS PALOP

por Arsenio Reis

 

Para além das grandes infraestruturas, alavancadas por linhas de crédito, as empresas chinesas descobrem novos modelos de investimento nos Países Africanos de Língua Portuguesa. Afonso Chan, que partiu de Macau levando consigo parceiros chineses à conquista de Moçambique, destaca o compromisso com a criação de empregos e a formação prossional dos quadros locais: “Já não se pode pensar só no capital”.

O projeto lusófono chinês primeiro abriu portas ao mais alto nível, negociando linhas de crédito para a (re)construção de estradas, portos, linhas férreas ou minas desativadas. Sobretudo em Angola e Moçambique, países com altas taxas crescimento, surgem agora novos modelos de investimento. A Charlestrong, empresa com sede em Macau, levou consigo o know-how e a experiência internacional de um parceiro escolhido na China continental, conquistou em Moçambique a confiança do Fundo do Fomento da Habitação (FFH) e, ano e meio depois, arranca com a construção de 240 apartamentos na Vila Olímpica, em Maputo, preparando já o passo seguinte: 50.000 habitações sociais, em seis cidades moçambicanas.

“Chegam mais oportunidades a Macau e à China. Começam a conhecer melhor os Países Africanos de Língua Portuguesa, especialmente Angola e Moçambique, que são mercados muito dinâmicos, com extensão territorial e recursos naturais. Estão a crescer a grande velocidade, mas precisam ainda de muitas coisas. Por isso as oportunidades são muitas”, sintetiza Afonso Chan, vice-presidente da Charlestrong.

Em Angola há muitas empresas chinesas e a concorrência é maior. Já em Moçambique, “o ambiente de investimento é mais ocidental e o tipo de civilização aproxima-se mais de Macau”. Por outro lado, já há muitos chineses de segunda geração, falantes de português. Afonso Chan desmente por isso que haja problemas de integração ou incompatibilidade social: “Não vejo tensão nem conflitos; a população local trata muito bem a comunidade chinesa. Tenho amigos locais e convivemos fora do trabalho, o que também ajuda na network profissional”. Afonso Chan conta com orgulho que já foi convidado a jogar futebol numa equipa local e diz que a população conhece a história e a cultura de Macau, o que considera “uma grande vantagem”. Por outro lado, há muitos chineses que estudaram português em Macau e com quem Afonso Chan se vai cruzando em Maputo. Apesar da experiência enquanto assessor de Rita Santos, no Fórum Macau, confessa que “não tinha percebido bem” o papel que a plataforma académica estava a cumprir. “Ninguém fala muito nesse trabalho em Macau; mas, afinal, eu vi-os lá. “.

 

CUMPRIR OBJETIVOS LOCAIS

O modelo de integração da Charlestrong cresce como um novo “ovo de Colombo”. Uma empresa de Macau escolhe um dirigente bilingue que conhece o terreno e tem contatos nos PALOP; aposta em Moçambique nas relações com o FFH e procura na China um parceiro com músculo internacional e capacidade técnica. Reúne também capitais – 30 milhões de dólares para os primeiros 240 apartamentos; 5,5 mil milhões para as 50.000 habitações sociais e, em troca, consegue a concessão de terrenos. Mas outros compromissos: “O primeiro-ministro chinês deu recentemente instruções para que as empresas chinesas garantam aos amigos africanos o que eles precisam”, frisa Afonso Chan, reconhecendo o apoio do embaixador chinês em Maputo. “Disse-me para ajudar a levar mais investimento de Macau e da China”, relata o jovem executivo, convencido de que “isso vai acontecer”.

Mas afinal do que é que os “amigos africanos” mais precisam? “O mais importante é a qualidade do trabalho e a eficiência. De facto, os chineses  são muito rápidos, mostram capacidade de trabalho, têm melhor preço e uma fisolofia diferente”, responde Afonso Chan. Mas há mais: “Não vamos construir habitações em estilo chinês; temos de construir o que eles gostam. Levámos de Macau o nosso know-how, a tecnologia, a ideia e o investimento. Ganhámos o projeto e levámos a equipa técnica chinesa”. Por fim, conclui, “para ganhar a confiança dos governos africanos temos de falar também de criação de emprego e de formação profissional. Esses dois pontos são muito importantes. Quando falamos de investimento não podemos pensar só em capital, temos de montar este novo tipo de sistema”.

Afonso Chan é hoje um confesso apaixonado por Moçambique. “A localização é ótima, perto da África do Sul e do maior aeroporto africano, tem bom clima, muitos recursos naturais, capacidade linguística e bons quadros… por isso consegue atrair muitos investidores estrangeiros, sejam eles chineses, Italianos, americanos ou japoneses”.

Mais do que uma porta para África, a Charlestrong descobriu em Maputo a sua base africana, embora admita investimentos noutras geografias. “Quando falamos de energia, pensamos na África do Sul, se for em minas, há a Namíbia, o Malawi, a Tanzânia… mas vamos primeiro focarmo-nos em Moçambique e na construção; depois pensaremos na diversificação”, conclui Afonso Chan.

 

Paulo Rego

 

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