“A ESCÓCIA NÃO É O CANADÁ – NEM A CATALUNHA”

por Arsenio Reis

 

John Corbett, escocês, chefe do departamento de Inglês na Universidade de Macau, falou ao Plataforma Macau dos desafios que esperam a Escócia. Defende que o referendo não abre precedentes para outras regiões mas que a Grã Bretanha,  provavelmente, não vai voltar a ser o que foi.

 

PLATAFORMA MACAU Os escoceses que vivem no exterior não podem votar. Sente-se discriminado?

JOHN CORBETT – Pessoalmente, não me sinto discriminado. Faço parte de uma grande diáspora e sei que muitos escoceses que vivem fora sentem que deveriam ter uma palavra a dizer sobre o futuro do seu país. Os meus compatriotas noutras partes do Reino Unido – Inglaterra, Gales, Irlanda do Norte – provavelmente sentem o mesmo, de que não têm uma palavra a dizer sobre a probabilidade de, de repente, passarem a viver num país estrangeiro. Mas eu penso que é uma decisão que, em primeiro lugar, afeta os que vivem na Escócia, e é justo que sejam esses a votar.

 

P.M. O prémio Nobel da Economia Paul Krugman disse que a saída do Reino Unido não lhe parecia uma boa ideia, uma vez que “a Escócia não é o Canadá”. Que lhe parece? 

J.C. – A Escócia não é o Canadá – nem a Inglaterra os EUA. É difícil prever o futuro de um ou mais países na base do seu estatuto político ou económico e nas relações com outros. A  leitura que eu faço, do que li e das e das discussões sobre as perspetivas da Escócia, antes ou depois da secessão do Reino Unido, é que depende de muitas variáveis, como a união monetária e a continuidade das relações comerciais com o resto do Reino Unido, a presença na União Europeia e das negociações sobre a propriedade do petróleo que ainda resta no Mar do Norte.

Se estas negociações fracassarem, então estaremos todos num caminho atribulado. Mas se houver um interesse comum e se prevalecer o bom senso, e estas negociações correrem bem, então, a médio prazo, a situação económica na Escócia não será muito pior nem melhor do que se tivesse permanecido no Reino Unido.No fim, isto resulta do crescente desejo de autodeterminação num país cujos residentes, alegadamente, se sentem menos ligados cultural, social e politicamente com aqueles que vivem a sul da fronteira, sobretudo com os que que vivem bem a sul da fronteira. As pessoas esquecem-se que não é só a Escócia que está a mudar, mas também a Inglaterra. Londres é, de facto, uma cidade-Estado, que tem o dobro da população da Escócia e as suas prioridades políticas e sociais são bastante diferentes de, digamos, Cumbria ou East Anglia [na Inglaterra], já para não falar da Escócia.

Então, o caminho da Escócia em direção à autodeterminação é talvez o primeiro passo de uma maior reorganização das instituições políticas no atual Reino Unido. Alguns dos meus amigos na Escócia, que são os mais ardentes apoiantes da independência, são, de facto, nascidos ou criados na Inglaterra; eles perderam a confiança na direção que a Inglaterra está a tomar do ponto de vista político e social e veem numa independente Escócia oportunidades para uma sociedade mais progressiva.

 

P.M. Uma independência da Escócia abre um precedente para outras regiões europeias, como a Catalunha, e até do Extremo Oriente. Mas o inverso também é correcto. Por isso, a próxima quinta-feira 18 de setembro é, de qualquer maneira, um dia histórico. Ou não?

J.C. – Mais uma vez, não vejo como um país pode ser um bom ou mau precedente  para aquilo que um outro possa fazer – as situações são diferentes. A Escócia não é o Canadá, nem a Catalunha.

Penso que, aconteça o que acontecer, o 18 de setembro de 2104 será histórico nas suas implicações. Se o ‘Sim’ assegurar mais de 50% dos votos, então a secessão da Escócia encerrará uma união política que durou 300 anos e viu o nascimento e queda de um império. Mas mesmo que obtenha mais de 40% dos votos, o que parece cada vez mais provável, acho que, inevitavelmente,  a campanha continuará até ser alcançada a independência. Pode levar mais uma década ou duas, ou apenas mais uns dias – mas o formato da Grã Bretanha, como o conhecemos, vai mudar para sempre.

 

Luís Andrade de Sá 

 

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