SIZA EM MACAU, 30 ANOS DEPOIS

por Arsenio Reis

 

Um projeto de renovação de um hotel levou hoje o arquiteto Siza Vieira a revisitar Macau, onde, apesar de ciente do ‘boom’, veio a comprovar as “grandes mudanças” no território 30 anos depois.

 

“A primeira impressão – embora como digo não fosse uma surpresa, [pois] sabia o que tinha sido o ‘boom’ da construção – foi a dificuldade em reconhecer o que eu tinha conhecido e existe ainda em grande parte”, disse o arquiteto português, contando que pediu uma planta para “ao passear aqui reconhecer como era” a zona do NAPE (Novos Aterros do Porto Exterior) quando trabalhara no projeto urbanístico nos anos 80.

Apesar de a par das transformações no território, observou que, “mesmo assim, é um choque tendo a última experiência de há 30 anos, sobretudo pelo que aumentou em termos de território”.

“Para mim, é bastante interessante ver o plano executado com algumas mudanças – mudanças importantes –, mas a maior mudança é Macau. Nos nossos planos, (…) nos anos 80, ninguém podia imaginar este enorme desenvolvimento. Por isso, a mudança mais visível é que projetamos nos planos que os edifícios teriam talvez metade da altura”, disse, numa comparação com a zona do NAPE nos dias que correm.

A arquitetura geral da zona não aprecia, mas não esconde uma satisfação: “O que me faz feliz é que o plano, a conceção, a grelha com espaços verdes, a forma como funciona o trânsito e isso tudo resistiu (…) e ficou ao serviço de uma transformação tão forte que não imaginava e que ninguém poderia imaginar”.

O regresso de Siza Vieira a Macau surge no âmbito do projeto de renovação, em parceria com Carlos Castanheira, do Sun Sun, hotel localizado no Porto Interior, com várias décadas de existência, adquirido pela família do empresário Yany Kwan, que se deslocou pessoalmente ao Porto para “pedir a ajuda” do arquiteto.

“Siza, com a sua juventude de coração e mente, aceitou pegar neste pequeno projeto com o Carlos [Castanheira] e ver o que podia fazer em Macau”, afirmou Yany Kwan, em conferência de imprensa.

“A intenção é manter a estrutura existente e trabalhar não apenas na fachada – claro que a imagem exterior vai ser mudada –, mas sobretudo os interiores, isto é, a disposição dos quartos, a mobília e a luz – um item muito importante – para conferir um novo caráter a este hotel, que não é um dos maiores, pelo que tem de se usar uma estratégia diferente para que seja especial”, explicou o arquiteto, de 81 anos, que ganhou o Prémio Pritkzer (o Nobel da Arquitetura) em 1992. “É bom estar a trabalhar no meio destas grandes mudanças, pelo menos não me aborreço”, brincou Siza Vieira, que poderia ter um maior papel em Macau, pelo menos se dependesse do proprietário do Sun Sun que gostaria de ver o arquiteto português ‘mexer’ na zona envolvente ao seu hotel que integra a cadeia internacional “Best Western”.

Siza Vieira disse ainda ver com “muita satisfação” o interesse pela preservação do património em Macau: “Nós pensamos um pouco que mudando a administração ia tudo abaixo e, ao contrário, eu acho até que houve mais cuidado ou pelo menos mais ação no sentido da preservação do que antes”. “Todas as cidades que são culturalmente interessantes e que vão para além do circunstancial e do momento têm renovação – poucas com esta intensidade -, mas mantêm, ao mesmo tempo, as marcas do passado”, realçou.

Siza Vieira e Carlos Castanheira, que se encontram na China desde há semanas, chegaram no domingo a Macau, regressando a Portugal na próxima quinta-feira.

A primeira obra de Siza Vieira na China – um edifício de escritórios, também desenhado em parceria com o arquiteto Carlos Castanheira – foi inaugurada no passado sábado, na província de Jiangsu, no leste do país.

 

LUSA

 

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