Dani Costa * – PRÓS & CONTRAS: BOM… CENSO

por Arsenio Reis

 

Há três dias desloquei-me à Feira do Livro, instalado no centro do Belas Shopping, para recolher dois livros que tinham sido ‘encomendados’ e não fiquei nada surpreendido com a resposta de uma vendedora da empresa Africana de que um dos exemplares que pretendíamos tinha sido vendido.

O facto de terem sido reservados não terá merecido alguma consideração. Parece estar subjacente no nosso Eu que os angolanos dificilmente honram os seus compromissos, sobretudo financeiros, mesmo não fazendo parte do leque das Nações onde nasce(ra)m ou se desenvolve(ra)m os maiores vigaristas da história da humanidade.

O caso do livro, que com alguma sorte ainda poderemos encontrar numa livraria luandense, é o mínimo daquilo que ocorre entre nós e que se pode apontar quando está em causa a falta de confiança. Não há coisa pior do que viver na desconfiança. Desconfiar do parente próximo, dos responsáveis, dos colegas nos locais de trabalho, da oposição, do partido que nos governa ou daqueles que nos dirigem.

Mesmo que estes atuem com bom senso e muita coisa esteja a ser feita, um pequeno incidente pode minar todo um processo e gorar as expetativas de quem espera resultados contrários.

Por exemplo, foi assim com o recrutamento dos jovens que participaram no processo de registo eleitoral e nas eleições de 2012. Muitos deles, empregados ou desempregados, viram nesta atividade cívica meio para ganharem algum dinheiro para suportar as despesas familiares ou estudantis.

Dois anos depois do escrutínio, ganho pelos camaradas, ainda existe um exército de desanimados que não viu a cor do dinheiro a que tinham direito pelo serviço prestado à Comissão Nacional Eleitoral (CNE). O ‘kilapi’ fez com que muitos jovens inicialmente ficassem reticentes em contribuírem para o Censo Geral da População e da Habitação, em Maio do corrente ano.

Desconfiados, alguns preferiram não se envolver nesta choruda operação de mais de 200 milhões de dólares norte-americanos, ao passo que outros, por falta de escolha, preferiram dar o benefício da dúvida ao Instituto Nacional de Estatística (INE) e entraram no jogo.

Os anúncios divulgados pela direção encabeçada por Camilo Ceita, de que já estão em pagamento os prémios para os recenseadores, supervisores e outros técnicos, foi uma lufada de ar fresco para muitos. Mesmo não se tratando de um gesto inédito, mas num reino onde às vezes falar dos orçamentos das instituições ou a construção de um chafariz já foi considerado segredo de Estado, o anúncio do Instituto Nacional de Estatística podia servir para coroar, mais uma vez, o êxito da complexa actividade que se realizou no país. Mas, nos últimos dias, começaram a surgir informações de jovens que terão trabalhado e possivelmente não vão receber os referidos pagamentos, ressuscitando assim os fantasmas que ainda ensombram as mentes daqueles que estiveram no processo eleitoral.

Se com o Censo muitos esperam melhorar as suas vidas, já que a partir de setembro – altura em que serão divulgados alguns dados provisórios -, então não seria nada errado se esses benefícios começassem a ser sentidos inicialmente por aqueles que tiveram a árdua tarefa de contabilizar quantos somos, como e onde vivemos, percorrendo zonas inóspitas, matas, rios e mares.

O censo geral da população e da habitação de Angola decorreu, em termos de calendário oficial, entre 16 e 31 de maio, envolvendo mais de cem mil pessoas e todo o tipo de meios de transporte. “Achamos hoje que nos podemos orgulhar por ser a primeira vez que se realiza um ato como este e por se ter de gerir, em pouco tempo, cerca de 105 mil pessoas nas dimensões que o país possui”, enfatizou Camilo Ceita. Só estaremos satisfeitos e poderemos dizer que tivemos um bom censo se os seus promotores ou obreiros não forem os primeiros defraudados, nesta operação que muitos angolanos pensam ser milagrosa e que vai dar uma volta de 100 graus nas suas vidas.

 

 O País, Angola

 

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