OPERAÇÃO DO BES ORIENTE INTEGRADA NO NOVO BANCO

por Arsenio Reis

 

A operação do Banco Espírito Santo do Oriente (BESOR), sediado em Macau e que pertence ao grupo BES, vai integrar o “Novo Banco”, disse à agência Lusa fonte do sistema financeiro local. Em Moçambique, o Moza Banco, com 49% do seu capital detido pelo BES, tem “seguido o evoluir da situação”. Já em Angola, o eco da notícia nos órgãos de comunicação social estatais fizeram despertar a preocupação dos clientes do BESA.

 

De acordo com declarações de uma fonte do sistema financeiro local, o grupo em Macau “não possui qualquer atividade” relacionada com negócios da família Espírito Santo, estando, por isso, afastado de qualquer “ativo mau” do grupo.

O BESOR é detido em quase 100% pelo BES, tem a sua atividade em Macau desde 1995 e dedica-se fundamentalmente à banca comercial e de investimentos.

Contactada pela agência Lusa a propósito da crise do BES e da supervisão ao BESOR, a Autoridade Monetária de Macau disse apenas que fiscaliza o banco de acordo com normas internacionais e mantém contactos com reguladores de vários pontos do globo, incluindo o Banco de Portugal, mas que não presta informações sobre uma entidade bancária especifica.

O BESOR é um banco de direito de Macau e tem de seguir as normas de Macau para poder operar na Região Administrativa Especial da China.

Recorde-se que o BES, tal como era conhecido, acabou no último fim de semana depois de o Banco de Portugal (BdP) ter anunciado a sua separação num ‘banco bom’, denominado Novo Banco, e num ‘banco mau’ (‘bad bank’).

O Novo Banco fica com os ativos bons que pertenciam ao BES, como depósitos e créditos bons, e recebe uma capitalização de 4.900 milhões de euros enquanto o ‘bad bank’ ficará com os ativos tóxicos.

O capital é injetado no Novo Banco através do Fundo de Resolução bancário, criado em 2012, para ajudar a banca a resolver os seus problemas. Como o fundo é recente, a solução passa por ir buscar a maior parte das verbas ao dinheiro da ‘troika’, cerca de 4.400 milhões de euros, ficando os restantes 500 milhões de euros a cargo do Fundo de Resolução, o que obrigará a uma contribuição extraordinária dos bancos que o constituem.

Já os ativos problemáticos do BES, caso das dívidas do Grupo Espírito Santo (GES) e a participação no BES Angola, ficam no chamado ‘bad bank’. Este terá uma administração própria, liderada por Luís Máximo dos Santos, e não terá licença bancária.

Após o anúncio do Banco de Portugal, o Governo, através do Ministério das Finanças, afirmou que os contribuintes não terão de suportar os custos relacionados com o financiamento do BES e a Comissão Europeia anunciou aprovar a solução, que está em linha com as regras de ajuda da União Europeia.

O Novo Banco será liderado por Vítor Bento, que substituiu o líder histórico Ricardo Salgado à frente do BES e a quem coube dar a conhecer prejuízos históricos de quase 3,6 mil milhões de euros no primeiro semestre.

 

MOZA BANCO DEMARCA-SE DA CRISE

O Moza Banco, quarta maior instituição bancária de Moçambique, garantiu hoje “a robustez dos seus capitais próprios”, sem esclarecer qual das duas novas instituições resultantes da transformação do BES vai assumir a participação de 49% do banco português.

“As empresas não financeiras do GES, da família Espírito Santo, não têm qualquer dívida junto do Moza Banco, não havendo por isso crédito mal parado que possa afetar os seus capitais próprios”, que se mantêm “a um nível robusto e acima das exigências regulamentares”, segundo um comunicado enviado à Lusa em Maputo.

O texto é omisso em relação ao futuro da participação de 49% do BES no Moza Banco e os pedidos de esclarecimento da Lusa foram remetidos para o acionista português.

“O conselho de administração e a comissão executiva do Moza Banco têm seguido o evoluir da situação do BES, as decisões das autoridades portuguesas relativamente aos seus ativos problemáticos e as decisões que foram tomadas com vista à obtenção de um quadro de atividade estabilizado, seguro e com níveis de solvência reforçados”, refere apenas o comunicado.

O documento reitera os pontos já divulgados pelo Moza Banco em 24 de julho, quando realçou que a instituição é detida em 51% pela Moçambique Capitais, que as decisões dos órgãos sociais decorrem num “ambiente em que existe uma clara separação dos interesses dos acionistas” e o “ rigoroso cumprimento das normas prudenciais e das regras do ‘compliance’ determinadas pelo Banco de Moçambique e pela legislação em vigor”.

A instituição bancária lembra que “os procedimentos de entrada e saída de capitais em Moçambique requerem vistos prévios do Banco Central, o que torna o Moza Banco imune a eventuais riscos de contágio em relação ao quadro verificado nas últimas semanas no sistema financeiro em Portugal”.

Segundo dados da empresa, o Moza Banco é o quarto maior do país, emprega 500 funcionários e planeia abrir até ao final do ano seis agências, a juntar às 26 existentes.

 

ANGOLANOS DESPERTAM PARA PROBLEMA NO BESA

A nomeação de administradores do banco central angolano para o Banco Espírito Santo Angola (BESA), o saneamento da instituição e, sobretudo, o eco da notícia nos órgãos de comunicação social estatais fizeram despertar a preocupação dos angolanos.

Embora sem nenhuma corrida aos balcões, a agência Lusa constatou alguma preocupação nos clientes do BESA em Luanda, ao mesmo tempo que as medidas de saneamento decididas no dia anterior pelo Banco Nacional de Angola (BNA) fazem o grande destaque das últimas horas na imprensa nacional, pela primeira vez desde o início da crise no BES português.

“Fiquei preocupado com as notícias, pensei que iria haver alguma interferência no funcionamento normal, mas até agora o atendimento tem sido normal”, confessou Osvaldo Manuel João, um dos clientes com dúvidas que hoje passou pelos balcões do BESA na Maianga, centro da capital angolana.

À saída, e apesar da preocupação inicial, admitia não ter motivos de queixa, pelo menos por enquanto: “Espero que se resolva a situação o quanto antes, sem afetar os clientes”, apontou.

Na segunda-feira, numa declaração com eco em toda a imprensa pública, o Governador do BNA, José de Lima Massano, anunciou a adoção de “medidas extraordinárias de saneamento” do BESA e a nomeação de “administradores provisórios”, de forma a “garantir a sustentabilidade financeira e operacional” do banco.

Em causa está um volume de crédito malparado no BESA que poderá chegar aos 5,7 mil milhões de dólares (4,1 milhões de euros), alvo de uma Garantia Soberana pelo Estado angolano que, segundo Massano, será agora revogada.

À porta de outro balcão na capital, Mondlane Silva dá corpo às notícias e à preocupação sobre o banco, até agora detido em 55,71% pelo BES português, participação que integrará o denominado “banco mau”, em Portugal.

“Tenho acompanhado a situação pelos órgãos de comunicação social. Sou cliente e fiquei atento às notícias, mas até agora não senti nada na pele. Ontem [segunda-feira] o governador do BNA falou sobre o assunto, se as coisas se complicarem vou ter que ver, porque o que os clientes querem é segurança”, reclama.

Por isso mesmo diz que sem uma palavra de “confiança” e sobretudo de “segurança”, as dúvidas podem subir de tom rapidamente.

“Se não há [confiança], fica difícil de a gente continuar num banco com problemas”, admite.

As dúvidas agravam-se no relato de António Valeto, que há vários dias enfrenta problemas para levantar o vencimento no BESA. Mais tempo que os dois dias habituais.

A instituição, refere, diz tratar-se de um “problema administrativo”, mas as dúvidas de António permanecem.

“Sou cliente do banco porque o meu salário é depositado no BESA e, não sei se fruto deste problema que o banco está a atravessar ou não, o salário está atrasado já há cinco dias”, garante.

Depois de nova consulta com o gerente do balcão, vai ter de continuar a aguardar, envolto nas notícias que se repetem sobre o BESA.

“A solução foi a empresa emprestar-nos dinheiro para depois devolvermos, quando estiver regularizada a situação. Só espero que tudo se resolva, mas parece que está complicado”, desabafou, sem esconder a preocupação.

O BESA conta atualmente com 1.050 trabalhadores.

Segundo o Governador do BNA, as medidas em curso no BESA visam “garantir a proteção dos depositantes e o cumprimento das demais responsabilidades” daquele banco, assim como “assegurar a contínua estabilidade do sistema financeiro nacional”.

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