EMPRESÁRIOS PORTUGUESES PREFEREM A ÁFRICA AUSTRAL

por Arsenio Reis

 

O presidente da Associação Industrial Portuguesa acredita que ainda existe desconhecimento por parte das empresas portuguesas “relativamente ao que representa Macau enquanto plataforma de acesso à China Continental”. Em entrevista ao Plataforma Macau, José Eduardo Carvalho realça que é importante acompanhar a estratégia da RAEM e é obrigatório olhar para a China.

Num estudo levado a cabo pela Associação Industrial de Portugal, é a zona económica regional da SADC (Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral) que está no topo das preferências dos investidores portugueses. “ Angola tem sido um mercado em que as empresas portuguesas menos obstáculos têm encontrado”, realça o responsável.

 

PLATAFORMA MACAUA Associação Industrial de Portugal (AIP) fez um estudo sobre as oportunidades de investimento nos mercados regionais da Lusofonia. Que resultados destacaria?

JOSÉ EDUARDO CARVALHO – Uma primeira conclusão a salientar é a confirmação do desenvolvimento de novas centralidades em termos de desenvolvimento económico, que conduzem à crescente relevância das economias emergentes, o que contrasta com uma época de crise económica e de baixo crescimento nas economias desenvolvidas. Entre as economias em desenvolvimento, os países da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) assumem um papel relevantíssimo, pelo seu potencial intrínseco e por se encontrarem inseridos em zonas regionais de integração económica com elevado potencial, como foi diagnosticado no âmbito dos estudos. Os seis espaços regionais económicos, onde os países da CPLP se encontram integrados, estão distribuídos por quatro continentes. Estima-se que se encontram no espaço lusófono cerca de 245 milhões de pessoas que integram regiões económicas com cerca de 1.800 milhões de pessoas. Constitui um incontornável desafio e uma oportunidade única para as empresas portuguesas.

 

P.M. – Em termos de oportunidades de investimento o que diferencia estes seis blocos regionais analisados?

J.E.C. – São blocos muito diferentes na sua dimensão económica, integrados por economias distintas, com diferentes graus de maturidade, do que resultam oportunidades diversas de investimento. Enquanto em determinadas regiões económicas as oportunidades imediatas de investimento estão muito suportadas na construção de infraestruturas públicas de apoio às populações, como redes viárias ou de abastecimento de água ou energia, outras nos domínios das infraestruturas públicas de desenvolvimento empresarial, como portos ou aeroportos e outras em oportunidades que procuram a necessidades de consumo das empresas e das populações de cada um dos países.

 

P.M. – Qual é o mais procurado pelos investidores portugueses?

J.E.C. – Com toda a certeza a zona económica regional da SADC (Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral) e dentro desta destaca-se a importância que Angola tem para os investidores portugueses. É um mercado que se encontra alinhado com o perfil produtivo e de especialização das empresas portuguesas, que é acompanhado por um crescimento e como tal tem sido um dos mais equacionados.

 

P.M. – E o mais acessível?

J.E.C. – Depende dos setores e das empresas. No entanto, pelos mesmos motivos atrás referidos, Angola tem sido um mercado em que as empresas portuguesas menos obstáculos têm encontrado. No entanto, nota-se também uma procura cada vez mais crescente pelo mercado de Moçambique.

 

P.M. – A Região Administrativa Especial de Macau foi analisada enquanto porta de entrada para a China e para Hong Kong. Acredita que, entre os investidores, há esta ideia estabelecida de que através de Macau é de facto mais fácil chegar ao outro lado da fronteira?

J.E.C. – Da parte das empresas portuguesas existe algum desconhecimento relativamente ao que representa Macau enquanto plataforma de acesso à China Continental, apesar da existência do acordo CEPA, que pode potenciar negócios através deste território. Por outro lado, será importante pelo interesse que poderá ter para as empresas portuguesas acompanhar a estratégia de Macau de integrar e desenvolver várias plataformas de relacionamento económico nomeadamente as relacionadas com os países lusófonos , Hong Kong e regiões chinesas próximas de Macau.

 

P.M. – Como é que os empresários portugueses estão a olhar neste momento para a China? 

J.E.C. – A China é a segunda economia do mundo. Nos últimos anos tem vindo a registar altas taxas de crescimento comparativamente com outras economias e os seus dirigentes estabeleceram como um dos seus princípios o estímulo do consumo interno e a promoção das importações. Logo é um mercado que obrigatoriamente deve estar sempre a ser acompanhado pelas empresas portuguesas. E as empresas portuguesas têm estado a acompanhar esse crescimento. Em 2013, o mercado chinês registou um forte incremento enquanto mercado de destino das exportações portuguesas, o que demonstra o interesse das empresas portuguesas.

 

P.M. – Neste quadro de entrada do continente chinês, o estudo aponta uma série de limitações ao investimento, seja a língua, o tempo necessário ao investimento, restrições aos setores limitados ao setor privado, limitação à livre circulação de pessoas e bens. É uma queixa comum entre a comunidade empresarial? 

J.E.C. – As empresas portuguesas tinham a sua abordagem tradicional muito focalizada nos mercados da Europa. Eram mercados já conhecidos, com rotinas processuais que já dominavam e com uma cultura de negócios muito próxima da portuguesa. Na China, as coisas são diferentes e é normal que exista a necessidade de um ciclo de aprendizagem que pode levar a que os negócios não se concretizem de uma forma tão expedita como muitas vezes as empresas procuram. Contudo, as limitações apontadas, não sendo discriminatórias, são obstáculos e custos para todos os países nossos concorrentes, não se colocando em exclusivo em relação Portugal.

 

P.M. – Na sua perspetiva quais são as vantagens das empresas portuguesas face às outras empresas dos outros países de língua portuguesa na altura de fazer negócio com a China? 

J.E.C. – As economias dos países de língua portuguesa têm carteiras de oferta de bens e serviços bastante diferentes, quer nas suas características quer na sua dimensão. Em Portugal existe um conjunto de empresas que produzem produtos inovadores de muita qualidade que respondem bem a novas necessidades de consumo da China. Neste momento, a vantagem portuguesa reside nesta capacidade.

 

Catarina Domingues

 

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