“BUSCAMOS SOLUÇÕES AFRICANAS PARA PROBLEMAS AFRICANOS”

por Arsenio Reis

 

David Rodrigues, comandante do AFRICOM, diz que a presença militar americana em África reforça as capacidades de defesa dos parceiros no continente.

 

As investidas do Comando Americano para a África (AFRICOM) são vistas por algumas vozes críticas como uma forma de reforçar a presença militar dos Estados Unidos no continente a fim de proteger interesses estratégicos como o petróleo, mas o comandante David Rodrigues, um respeitado general de quatro estrelas, nega essa visão e diz que a abordagem da maior potência mundial é desenvolver instituições fortes e capazes em África.

“Buscamos soluções africanas para problemas africanos. Tudo o que fazemos é com a aprovação dos nossos parceiros africanos”, frisou Rodrigues, comandante do AFRICOM, um comando criado em 2007 no governo de George W. Bush, mas que atingiu a velocidade de cruzeiro na administração de Barack Obama, actual Presidente do único país do mundo que divide o planeta em comandos militares.

Entre 21 e 26 de julho, o SAVANA esteve em Estugarda (Alemanha) sede do AFRICOM, integrado numa equipa de órgãos de comunicação social de Moçambique e Angola. Durante a estadia, que culminou com uma entrevista coletiva de 45 minutos com o general David Rodrigues, vários peritos militares norte-americanos procuraram descolar o AFRICOM da ideia de que o comando é o principal instrumento de intervenção e agressão norte-americana no continente. Luta contra o terrorismo e tráfico de drogas, intervenções humanitárias, apoio a iniciativas importantes de saúde, iniciativas para a segurança marítima e apoio a operações de manutenção de paz são oficialmente alguns dos objetivos do comando norte-americano para a África.

 

BOKO HARAM

Mostrando-se determinado em afastar especulações relativamente às reais intenções do AFRICOM, David Rodrigues abordou a proliferação de grupos de militares no continente africano e a intervenção norte-americana para conter grupos terroristas, como o exemplo do cometimento americano para a segurança do continente.  Rodrigues fez notar que as forças americanas estão a acompanhar de perto as ações do Boko Haram no norte da Nigéria, uma organização que está a expandir as suas atividades terroristas pelo continente. Boko Haram e Al-Shabab são vistos como as duas maiores ameaças da segurança em África. Todos têm um forte vínculo com a Al-Qaeda. Segundo Rodrigues, os resultados finais do AFRICOM é que a África não seja um porto seguro para a Al-Qaeda e outras organizações extremistas.

“Estamos muito preocupados, porque essas conexões expandem oportunidades. O Boko Haram é uma rede muito violenta”, frisou, lembrando, no entanto, que o papel do AFRICOM destina-se a assegurar a preparação e outras formas de assistência às forças armadas de países parceiros que requerem a ajuda. “Queremos seguir, cuidadosamente, todas as ações que são desestabilizadoras para um país. Temos que ajudar a criar capacidades, a capacidade africana, porque é a melhor forma para lidar com esses desafios: a maneira africana, com forças africanas. É por isso que estamos efetivamente a trabalhar no reforço das capacidades de defesa de parceiros africanos”, frisou. A única base permanente do exército americano em África encontra-se em Djibouti. A uma pergunta do SAVANA sobre se os Estados Unidos tencionam criar outras bases fixas, tendo em conta que operações com drones no Mali e no Níger estão a alimentar especulações de um maior envolvimento americano no continente, Rodrigues negou essa eventual pretensão.

“Não temos planos para criar outras bases permanentes. A estratégia do AFRICOM concentra-se em desenvolver as forças militares das nações parceiras através de uma variedade de programas”, rematou. Na Libéria, os esforços norte-americanos, segundo Rodrigues, ajudaram a desenvolver instituições de defesa e a construir um novo exército. “A Libéria realizou um grande progresso e é atualmente um país que contribui com tropas à Missão Multidimensional integrada das Nações Unidas para a estabilização do Mali”, sublinhou.

Sem entrar em muitos pormenores, discurso próprio de militares, o general Rodrigues disse que em Moçambique o Departamento de Defesa mantém laços estreitos com o Ministério da Defesa. Fez notar que a presença americana em África é limitada a números reduzidos de instrutores militares que em regime de rotatividade vão e voltam aos países com base em solicitações de governos africanos. Mas, em alguns setores, há um entendimento de que a continuada presença e o envolvimento crescente do Comando dos EUA em África só fará inflamar cada vez mais o relacionamento de Washington com o mundo.

 

INTERVENÇÃO HUMANITÁRIA

Outras das grandes intervenções do Comando norte-americano é nas operações humanitárias, também vistas como uma contraparte à presença militar oferecida aos países africanos e uma tentativa de ganhar “corações e mentes”. Mas vários oficiais do AFRICOM negam esta abordagem e afirmam que as intervenções humanitárias no continente “são sinceras”.

No primeiro dia do encontro entre os jornalistas moçambicanos, angolanos e peritos militares norte -americanos, o major general, Michael Kingsley, chefe do Estado Maior do Quartel General do AFRICOM, precisou que o Comando tem vários programas de atividades humanitárias e de saúde em África. Programas de respostas às pandemias, preparação para desastres, assistência humanitária contra as minas e projetos para reduzir e eliminar novos casos de HIV-Sida nos militares das nações parceiras destacam-se entre os programas perseguidos pelo AFRICOM. Nos últimos anos, Kingsley frisou que o AFRICOM participou em Moçambique no planeamento e preparação de respostas para uma pandemia de gripe e na consciencialização e prevenção contra o Sida, doença ainda sem cura publicamente conhecida à escala planetária.

O AFRICOM possui cerca de duas mil pessoas, incluindo funcionários militares, civis federais dos EUA e funcionários contratados. Do total do pessoal afecto ao AFRICOM, 1.500 trabalham nos escritórios centrais do comando em Estugar- da. Os restantes estão designados a unidades do AFRICOM na base das Forças Aéreas de MacDill, Florida e RAF Molesworth, Inglaterra.

Umas das perguntas mais recorrentes é o porquê do Comando Central do AFRICOM estar baseado na Europa e não em África. Ben Benson, responsável pelas relações públicas do comando, tem uma resposta na ponta da língua porque é sempre confrontado com esta pergunta pelas várias delegações que escalam aquela base militar. Lembrou que os EUA estacionaram as suas tropas na Alemanha após o fim da II Guerra Mundial, em 1945. Desde essa altura permanecem com duas importantes bases, uma delas em Estugarda, que foi transformada em Comando Central do AFRICOM em 2007. Uma das explicações para a presença do AFRICOM em Estugarda e não em África é a capacidade e infraestruturas já existentes e os custos que significariam uma mudança para um país africano. Benson frisou que as forças americanas na Europa podem facilmente chegar aos pontos de tensões na região, incluindo o Médio Oriente, Europa do Leste ou África, e apontou como um dos exemplos a intervenção no ano passado na Líbia.

 

Francisco Carmona

Exclusivo jornal Savana para o Plataforma Macau

 

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