A POLÍTICA EXTERNA DE MAPUTO NÃO VAI MUDAR

por Arsenio Reis

 

O candidato presidencial da Frelimo efetuou um périplo pelos países da região, reafirmando a continuidade da política externa de Moçambique.

 

O candidato presidencial da Frelimo, Filipe Nyusi, disse esta semana em Gaborone, no Botswana, que a política externa de Moçambique não irá sofrer alterações num futuro governo deste partido, por ele liderado.

Nyusi falava no final de uma visita de cinco horas que efetuou àquele país da África Austral, onde manteve contatos com os líderes locais, incluindo o Presidente Ian Khama. A visita enquadra-se nas deslocações que o candidato da Frelimo tem efetuado aos países da região, como parte da sua preparação para as eleições gerais de 15 de outubro, tendo como finalidade explicar às lideranças desses países a matriz da política externa do seu gove no, caso ganhe as eleições.

“Estamos a visitar os países da SADC para podermos nos apresentar e dar o conforto aos nossos amigos, de que mesmo com a mudança de liderança, a política externa do nosso governo não vai mudar”, disse Nyusi, sublinhando que a única opção que este relacionamento tem é melhorar. Nyusi acrescentou que o outro objetivo destas visitas é fazer chegar aos governos destes países, incluindo os partidos que os sustentam, a mensagem “da nossa vontade de paz, e a eles transmitir também que queremos definir como prioridade no nosso relacionamento a atividade económica… porque entendemos que só podemos acabar a pobreza e criar o bem-estar para o nosso povo desenvolvendo o nosso país, e acreditamos que os nossos vizinhos desempenham um papel importante na parceria económica que pretendemos promover”.

 

PÉRIPLO REGIONAL “ENTRE AMIGOS”

Nyusi deslocou-se ao Botswana ido de Harare, no Zimbabwe, onde manteve um encontro com o Presidente Robert Mugabe, para além de se ter reunido com membros da comunidade moçambicana residentes naquele país. Antes havia estado em Angola, Namíbia e Tanzânia.

Nesta visita ao Botswana, Nyusi fez-se acompanhar de Alberto Chipande, membro da Comissão Política da Frelimo, e Fernando Faustino, secretário- -geral da Associação dos Combatentes da Luta de Libertação Nacional (ACLN), uma agremiação estruturalmente ligada ao partido no poder.

As deslocações ao exterior não se limitam aos países da SADC (Comunidade de Desenvolvimento da África Autsral), a região onde Moçambique está inserido, mas também a outros, considerados importantes para o complemento dos esforços de desenvolvimento do país. Há duas semanas, Nyusi esteve nos Estados Unidos, onde manteve vários encontros, de entre os quais com os Departamentos do Estado, dos Recursos Energéticos e do Comércio, para além de mesas redondas onde foram versados assuntos ligados a boas práticas de governação, transparência, democracia, processos eleitorais, procedimentos nos negócios e corrupção. “Foram debates que nos foram muito úteis”, disse Nyusi. “E pensamos que nos estamos a preparar para assumir essa responsabilidade”.

A visita de Nyusi ao Botswana começou nas primeiras horas da manhã de terça-feira com um encontro com alguns militantes da Frelimo residentes no Botswana, antes de se deslocar à sede do Parlamento para um encontro com a respetiva Presidente, Margaret Nasha. Seguiu-se uma deslocação à sede do Partido Democrático do Botswana (BDP), que sustenta o governo, para um breve encontro com o secretário-geral, Mpho Balopi, antes de se encontrar no Gabinete do Presidente da República, com o Chefe de Estado Ian Khama. Antes de partir para Caia, em Sofala, ao princípio da tarde, Nyusi manteve um encontro com uma delegação do BDP liderada pelo seu presidente da mesa e vice-Presidente da República, Ponatshego Kedikilwe. Neste encontro, para além do secretário-geral, estiveram presentes Tebatso Lekalake-Mashabela, que é membro do comité central e responsável pelo partido ao nível da região de Gaborone; o secretário para as Relações Exteriores e Comunicações, Mogweetsi Masisi, que exerce também interinamente as funções de ministro da Educação; o ministro em Exercício dos Assuntos Presidenciais, Shaw Kgathi; e o director da campanha eleitoral do BDP, Alec  Seawatso.  Numa breve conferência de imprensa, Nyusi manifestou-se satisfeito com a visita, mas sublinhou que as relações entre Moçambique e os outros países da região devem avançar para uma fase em que assentam também no desenvolvimento económico. “Estamos bem nas relações políticas e diplomáticas”, disse Nyusi. “Mas há que avançar agora para áreas que apresentem resultados que contribuam para o bem-estar dos nossos povos”.

Sublinhou haver condições para que isso aconteça, e no caso do Botswana, destacou os acordos na área económica assinados entre os dois países, durante a última visita de Estado do Presidente Khama a Moçambique, em Julho de 2011. “Há áreas que já devem ser concretizadas”, disse Nyusi, dando como um dos exemplos o projeto de construção de uma linha férrea ligando o Botswana e Moçambique, ao custo de sete mil milhões de dólares. Outros projetos incluem a possibilidade de Moçambique vir a fornecer energia elétrica a partir da Barragem de Cahora Bassa,  assim como o envolvimento da Petromoc, a empresa pública moçambicana de comercialização de combustíveis, na criação de reservas para o Botswana. O Botswana recebe atualmente grande parte dos seus combustíveis a partir da África do Sul, mas o país decidiu recentemente que deveria diversificar as suas fontes de abastecimento, em parte devido aos constantes congestionamentos que se verificam nos portos sul africanos. Para Nyusi, Moçambique poderia beneficiar, com as suas extensas áreas de pasto, da larga experiência do Botswana na criação de gado em moldes industriais, produzindo leite e carne, desenvolvendo a indústria de curtumes e a tração animal. “Temos que deixar de olhar para o gado como um animal de prazer ou de estimação, e partirmos para a sua criação em moldes industriais”, disse Nyusi.

 

Fernando Gonçalves

Exclusivo jornal Savana para o Plataforma Macau

 

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