REPENSAR A FÁBRICA DO MUNDO PARA SOLUCIONAR PROBLEMAS AMBIENTAIS

por Arsenio Reis

 

A substituição gradual das indústrias manufatureiras por indústrias criativas na China é vista por atores do mercado como meio para se alcançar um desenvolvimento económico mais sustentável.

 

Captura de ecrã 2014-08-3, às 2.44.49 PMHangzhou, a cerca de duas horas de carro a sul de Xangai, quer afirmar-se como um centro de indústrias criativas e culturais de classe mundial na China, aliando vantagens competitivas como os talentos locais e o ambiente.

A Associação Criativa e Cultural da cidade foi criada neste contexto há três anos com o objetivo de “ajudar à promoção de designers e de marcas locais no mercado global”, contando hoje com mais de 20 criativos entre os 20 e os 35 anos, disse ao Plataforma Macau o vice-secretário-geral, Benny Yu.

“Os nossos designers desenvolvem os seus produtos principalmente com materiais naturais como o bambu, a madeira, a porcelana num conceito de proteção ambiental”, explicou o dirigente associativo ao salientar que todos se “esforçam por utilizar materiais reutilizáveis, partilhando um ideal comum: o produto deve ser próximo das pessoas e os materiais devem ser amigos do ambiente”.

De acordo com o mesmo responsável, os criativos de Hangzhou “são muito rigorosos na escolha da qualidade dos seus materiais”, salientando que, por exemplo, quando utilizam madeira procuram garantir que ela “venha de árvores com um rápido crescimento para evitar o abate excessivo”.

Ao constatar que “qualquer país quando atinge determinado estado de desenvolvimento enfrenta a relação condicionante entre o desenvolvimento económico e a poluição ambiental”, Benny Yu sublinha que na China já existe esta preocupação e que em Hangzhou procuram-se “formas de mudar esta situação”.

“Nos últimos anos, o país anunciou uma reforma económica, segundo a qual a indústria produtiva passará a indústria criativa, portanto o design criativo terá um papel importante no processo de transformação do modelo industrial de grande escala na China”, realçou.

Captura de ecrã 2014-08-3, às 2.44.42 PMPara este responsável, são necessárias “medidas abrangentes” para lidar com a questão da proteção ambiental na segunda economia mundial, defendendo que a reforma da indústria do país “é uma das melhores soluções para resolver os problemas do ambiente e da população”. “O país, ao substituir a indústria de baixa eficiência por uma indústria de elevado valor acrescentado, conseguirá mais facilmente atender a todos os problemas”, acrescentou.

A cidade de Hangzhou está no bom caminho, disse, salientando o facto de, comparativamente a outras cidades chinesas, o ambiente natural na região ser “ainda muito bom”, para o que contribui “o Lago do Oeste e as montanhas circundantes”.

A abordagem de problemas sociais como o ambiente não é um requisito da Associação Criativa e Cultural de Hangzhou, no entanto, a organização “encoraja os artistas a ajudarem o mais possível a resolver estas questões nos seus designs, de forma a melhorar a qualidade de vida das pessoas”, referiu o vice-secretário-geral.

Ao indicar que a maior parte dos designers locais “espera poder levar a arte tradicional e o pensamento filosófico chinês a mais pessoas através do seu trabalho”, combinando o artesanato da China e o design contemporâneo, Benny Yu destacou que “alguns revelam uma maior preocupação com o ambiente”, apontando o exemplo de Zhang Lei, do estúdio PINWU, que “recentemente criou produtos relacionados com o tratamento e reciclagem de lixo”.

Este estúdio é um dos que já “exporta os seus produtos para o estrangeiro”, tendo inclusive alguns que integram coleções de museus europeus de design. “Para estas empresas estabelecidas há menos de cinco anos, o seu crescimento tem sido incrivelmente muito rápido e nós queremos precisamente oferecer-lhes uma plataforma de promoção dos seus designs e produtos a nível global”, concluiu Benny Yu.

 

Captura de ecrã 2014-08-3, às 2.44.35 PMMACAU COMO MODELO

Calvin Sio, um jovem artista de Macau, de 23 anos, decidiu regressar ao território depois de concluir os estudos superiores em Taiwan para abrir um estúdio, onde se dedica, desde o início do ano, a desenvolver produtos com “restos de madeira de fábricas de mobílias da China”, explicou em declarações ao Plataforma Macau.

“O ambiente na China é muito mau, porque o país tem muitas fábricas, toda a gente está preocupada e, por isso, trabalho com madeira, porque muitos produtos são feitos de plástico, o que polui o ambiente, e porque precisamos de gostar do sítio onde vivemos e de, por isso, o proteger”, disse.

Hylé Design é a marca criada por Calvin, que comercializa hoje vários produtos a pensar nos executivos e estudantes, como cadernos, agendas, réguas e até colares e pulseiras, tudo com restos de madeira desperdiçados pela fábrica do mundo que reutiliza.

“Acho que o Governo de Macau podia promover mais a proteção ambiental em todas as indústrias, porque assim estas poderiam também retirar daí vantagens, nomeadamente da reciclagem de materiais, em vez de os desperdiçarem e se o território o fizer, isso poderá ajudar de certo modo a economia”, defendeu.

Para este jovem designer, a Região Administrativa Especial chinesa tem um papel importante a desempenhar como “modelo” para a China continental em matéria de proteção ambiental, já que é uma cidade “mais próxima dos padrões globais e que recebe muitos turistas chineses, que poderão levar exemplos aqui praticados para a sua terra-natal”.

Apesar de o seu negócio ter arrancado só há cerca de cinco meses, Calvin Sio já exporta os seus produtos para Taiwan e Japão e tem em vista começar a vender para a Coreia do Sul e Estados Unidos.

 

Patrícia Neves

 

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