REDUÇÃO DA PEGADA ECOLÓGICA COMEÇA COM MUDANÇA DE HÁBITOS

por Arsenio Reis

 

A poluição atmosférica e escândalos relacionados com segurança alimentar levam cada vez mais chineses a repensar o seu estilo de vida. É o primeiro passo no sentido de reduzir a pressão do consumo sobre o planeta.

 

Captura de ecrã 2014-08-3, às 2.44.22 PMVirginia Wong, de 49 anos, era repórter em Hong Kong, mas visitas frequentes a quintas orgânicas de amigos nos Novos Territórios mudaram a sua vida. “Não sabia produzir vegetais de forma natural, mas comecei a perceber que isso era bom para mim, porque podia comer alimentos mais saudáveis, e também era bom para o ambiente”, disse em declarações ao Plataforma Macau.

Foi há cerca de dez anos que Virginia decidiu trocar o seu emprego por uma fonte de rendimento em part-time para poder começar a dedicar-se à agricultura biológica. “Um amigo meu não conseguia vender os produtos da sua quinta porque não tinham tão bom aspeto como os do supermercado e começámos a pensar como os poderíamos aproveitar, porque eram de boa qualidade, foi então que decidi pesquisar na Internet e consultar médicos chineses para saber como fazer produtos naturais”, lembra.

Virginia criou há cerca de dois anos uma marca orgânica, a Virganic, sob a qual vende shampôs, sabonetes, cremes hidratantes, repelentes, entre outros produtos feitos à base de ervas, vegetais e frutas que planta ou adquire sob a chancela “comércio justo”.

Todas as quartas-feiras, Virginia vende as suas criações num mercado orgânico de Hong Kong, além de as comercializar numa loja de produtos naturais no território.

“Em Hong Kong, ainda existem poucas quintas orgânicas, mas há cada vez mais pessoas a perceberem que é importante protegermos mais o ambiente e que os produtos orgânicos fazem melhor à saúde”, observou.

Ao salientar que os “chineses estão cada vez mais preocupados com as questões ambientais porque há muita poluição e problemas com alimentos”, Virginia defende que não se pode “ignorar a realidade e que é preciso agir”. “Tudo começa em nós. Podemos, por exemplo, escolher o que comemos, julgo que deveríamos então começar por aí”, defende.

Captura de ecrã 2014-08-3, às 2.44.15 PM“O Governo tem o poder, mas se calhar é difícil mudar o estado das coisas porque tem de gerir muitas situações ao mesmo tempo, mas nós podemos mudar, começando por nós próprios”, sublinhou.

Segundo esta pequena empresária, os produtos orgânicos “são cada vez mais populares” na China e este negócio “está a crescer”, atribuindo a situação nomeadamente a escândalos relacionados com a segurança alimentar. “Antes não se conseguia vender muitos produtos orgânicos, porque os consumidores diziam que eram muito caros comparando com os dos supermercados, mas hoje, com os problemas que estão a surgir, com as notícias de casos como o da carne estragada do McDonald’s, há cada vez mais lojas de produtos orgânicos, muito mais do que há dez anos”, disse.

 

POUPAR E REUTILIZAR

A Value Lifestyle é uma empresa de Hong Kong que se estabeleceu em Macau há cerca de dois meses para comercializar filtros de água e ventoinhas amigas do ambiente.

“A água de Macau, que vem da China, é muito lamacenta, basta abrir a torneira e ver, por isso hoje toda a gente procura filtros”, explicou Edmund Lam, responsável pela empresa no território, ao indicar que já vendeu “mais de 400 filtros” nos últimos dois meses.

Ao salientar que “há muitas fábricas na China que desperdiçam água e que, por isso, aquela que chega aos lares não é tão limpa como antes”, o responsável apontou que “os chineses estão hoje muito preocupados com a sua saúde, por isso os filtros são tão populares” no país.

Captura de ecrã 2014-08-3, às 2.44.08 PMPor outro lado, destaca, “muita gente compra água engarrafada, o que não é bom para o ambiente, basta ter em conta a poluição causada com o transporte dos garrafões até aos supermercados, mas os filtros fazem com que tenhamos água própria para consumo sem causar malefícios ao ambiente”.

Apesar de considerar que as fábricas chinesas poderiam reutilizar a água para reduzir a sua pegada ecológica, devendo “gastar mais dinheiro em medidas de proteção ambiental”, Edmund Lam não acredita que exista hoje “uma forma eficiente” para se conseguir na China um crescimento económico que não cause danos ambientais. “Honestamente, acho que os chineses estão mais preocupados em ganhar dinheiro e em deixar o país”, salienta.

Ao observar que, “no ocidente, as pessoas estão preocupadas com as futuras gerações, ao contrário dos chineses”, Edmund Lam alerta para a necessidade de a China ganhar a consciência de que “se deve poupar eletricidade e água, porque um dia vamos acabar com os recursos de água ou toda a água do mundo estará poluída”.

De uma perspetiva comercial, Edmund Lam constata que o negócio de produtos amigos do ambiente “está em crescimento”. “Queremos fazer dinheiro, mas não só, queremos vender produtos que façam bem às pessoas, esta é a nossa responsabilidade social”, concluiu ao salientar a importância de mais empresas na China adotarem esta atitude.

 

Patrícia Neves

 

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