TUBARÕES JÁ NÃO VOAM

por Arsenio Reis

 

Companhias aéreas asiáticas cedem à pressão de ambientalistas e proíbem transporte de barbatanas de tubarão nos voos de carga. Em Macau, a companhia de bandeira “nunca transportou, não transporta nem nunca transportará” barbatanas de tubarão. Porém, a RAEM ainda tem um longo caminho pela frente para combater uma tradição que é milenar.

 

Captura de ecrã 2014-07-18, às 04.04.35 PMSingapura é um dos maiores exportadores e importadores de barbatanas de tubarão do mundo. Mas, a partir de agosto a cidade-Estado não vai poder contar mais com a companhia de bandeira para realizar o transporte deste produto. A decisão foi tomada após a realização de uma análise “cuidadosa em que foi tida em conta a crescente preocupação de todo o mundo com a prática da remoção das barbatanas de tubarão”,  explicou o porta-voz da Singapore Airlines ao Plataforma Macau.

No passado, a empresa aérea já tinha proibido “o transporte de pássaros – com exceção de animais enviados de um jardim zoológico para outro – e de macacos para fins de investigação científica”, recorda ainda o representante. Agora, a proibição foi mais longe, e estende-se às barbatanas de tubarão, uma iguaria apreciada sobretudo nesta região da Ásia.

Também as principais companhias filipinas juntaram-se à iniciativa. Em abril, a decisão foi tomada pela Philippine Airlines e há pouco mais de uma semana também a Cebu Pacific Air baniu o produto das suas rotas. Propriedade da família de origem chinesa Gokongwei – com negócios na indústria alimentar e setor imobiliário – a companhia de baixo custo declarou na altura que “a pesca de tubarão insustentável e o transporte de barbatana de tubarão não estavam alinhados com a posição [da empresa] para um desenvolvimento sustentável.”

A sopa de barbatana de tubarão é um alimento regular nas mesas de casamento e banquetes no interior da China. Para que milhões de pessoas continuem a consumir este produto, pescadores capturam os tubarões, cortam as barbatanas e devolvem o animal ao mar, onde acaba por morrer.

A prática, conhecida como shark finning, é proibida em vários países, como nos Estados Unidos, África do Sul, Reino Unido, Costa Rica, Omã, Colômbia e os países membros da União Europeia.

Campanhas contra a pesca do tubarão chamam ainda a atenção para o facto do consumo de tubarão ser perigoso. “Estão contaminados com metais pesados porque são animais grandes que consomem peixes mais pequenos também contaminados. Quanto maior são os animais no oceano, mais toxinas têm no corpo”, nota Jerusa Antunes, que está à frente em Macau da campanha I`m FINished with Fins lançada pela organização internacional Shark Savers.

 

 

 

HONG KONG É O CENTRO DO COMÉRCIO

A companhia aérea de bandeira de Hong Kong Cathay Pacific foi a primeira empresa a anunciar ao mundo a proibição do transporte de barbatana de tubarão nos seus voos de carga.

Corria o ano de 2012 e a pressão era gigante: a RAEHK mantinha-se no topo da tabela como o principal centro de comércio de barbatana de tubarão do mundo.

Na altura, a decisão foi aplaudida por ambientalistas que viam neste um passo crucial para a conservação marinha da região.

Mas, quase dois anos depois, a medida não entrou em vigor. Ambientalistas continuam a pressionar e a pedir tolerância zero. A Cathay vai-se defendendo com números: entre outubro de 2012 a março de 2013, a empresa transportou cerca de três toneladas de barbatana de tubarão. No ano anterior, os carregamentos totalizavam 300 toneladas.

O decréscimo “pode ser positivo, mas já viu o que são três toneladas de barbatanas de tubarão? Ainda é muito”, disse Alex Hofford da organização não governamental MyOcean à imprensa de Hong Kong.

“O nosso objetivo é chegar a uma lista de fontes de produtos de tubarão sustentáveis para que possamos prosseguir com a implementação da nossa política”, disse no final do ano Peter Langslow, responsável pelos serviços de carga da Cathay Pacific. “A quantidade muito pequena [de barbatana de tubarão] que estamos a transportar no momento tem origem em países onde a pesca é cuidadosamente regulamentada.”

 

CONSUMO DECRESCE MAS PREOCUPA

Captura de ecrã 2014-07-18, às 04.04.47 PMDe acordo com a divisão de transporte de cargas da Air Macau, numa resposta enviada ao Plataforma Macau, a companhia de bandeira do território “nunca transportou, não transporta nem nunca transportará barbatanas de tubarão”.

“Estamos a falar de companhias aéreas internacionais e o fato de tomarem esta decisão [proibição de transporte] aumenta a sensibilização da população e transmite uma boa imagem do país ou região”, nota Jerusa Antunes, responsável pela campanha I`m FINished with Fins da Shark Savers, em Macau.

Jerusa Antunes acredita, porém, que é preciso fazer mais para encerrar Macau, “um grande porto e um ponto de entrada para a China continental”.

Um estudo realizado pela União de Estudantes Macau Verde revela que, em 2010, foram servidas no pequeno território cerca de cinco mil refeições por dia com barbatanas de tubarão. A associação estima ainda que pelo menos 25 mil tubarões sejam abatidos anualmente só para abastecer os estabelecimentos de restauração do território.

Jerusa Antunes admite, porém, que os números têm vindo a decrescer, o que pode significar uma mudança de mentalidades. “Em Macau há uma geração nova que está mais consciente do problema do consumo de barbatana de tubarão, mas os turistas que visitam o território são os que mais consomem.”

Vários restaurantes de Pequim, na China, estão a alterar os menus e outros a fechar desde que foi aprovado um regulamento, em 2013, que acabou com as exceções que permitem cortar barbatanas de tubarões nos navios.

De acordo com notícias avançadas pelo jornal The Guardian, seis meses depois de Pequim ter banido a sopa de tubarão dos banquetes oficiais, o preço [das barbatanas de tubarão] caiu entre 20% a 30% em Hong Kong e em Macau, bem como noutros grandes mercados.

 

Catarina Domingues

 

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