Ivone Soares * – QUE VENHA A PAZ!

por Arsenio Reis

 

Sabe melhor o mel e não este fel associado à pólvora

 

A história mostra-nos que o povo moçambicano, após suportar 500 anos de dominação colonial estrangeira, decidiu resistir e lutar pela Independência Nacional. Essa luta foi dirigida pela então Frente de Libertação de Moçambique que resultou da fusão de três movimentos nacionalistas, nomeadamente UDENAMO, UNAMI e MANU. Após o início da luta armada, a ala Marxista do movimento tomou de assalto a liderança da Frente, tendo eliminado fisicamente nacionalistas que pensavam diferente para a seguir alterar todo o xadrez desenhado pelos fundadores da Frente. Foi este grupinho que proclama a Independência Nacional a 25 de Junho de 1975 que transformou o país numa nova colónia dos Marxistas Soviéticos perpetuadores do sofrimento do povo moçambicano, que viu as suas liberdades violadas pelo novo colono nacional. É assim que o povo moçambicano mais uma vez procura encontrar uma solução para a sua libertação criando a RENAMO-Resistência Nacional Moçambicana. A Guerra pela democracia, iniciada em 1977, foi-nos imposta pela Frelimo porque não deixou outra alternativa aos moçambicanos. Qualquer possibilidade de manifestação de repúdio ao sistema imposto pela Frente era violentamente reprimida, o/a caro(a) leitor(a) deve estar recordado(a) que foram criados campos de reeducação, vigorava a pena de morte, e que por isso lutou-se. A luta durou 16 anos e terminou com a assinatura do Acordo Geral de Paz que foi testemunhado pelas Nações Unidas e demais intervenientes nacionais e internacionais. Toda a Frelimo, em Roma, aceitou trabalhar com a Renamo com vista a criação de instituições republicanas que serviriam ao Estado Moçambicano.

Toda a  Frelimo, em Roma, aceitou respeitar os Direitos Humanos, a Democracia para depois destruir tudo, pugnando por promover eleições sem transparência. Eleições essas reconhecidas por gente que sai de casa, faz uma passeata por meia dúzia de assembleias de voto e depois assina um documento reconhecendo a sua credibilidade, transparência e just- eza, em prejuízo do povo que fica mais cinco anos comendo expectativas e be- bendo sonhos desde 1975 irrealizáveis. Alguns arrependidos e saudosos do tempo em que vigorava o Partido único decidiram revirar o jogo e ditar novas regras na Frelimo. Assim, esse grupinho enganou as Nações Unidas, enganou a todos os mediadores envolvidos na pacificação de Moçambique e enganou o povo moçambicano que acreditou que a sua tentação totalitária tivesse diminuído. Perante as evidentes situações de: Permanente partidarização do Estado; Exclusão social, económica e perseguição dos moçambicanos que pensam diferente da Frelimo; Crescente falta de transparência nos negócios do Estado que supostamente visam melhorar a vida do povo, beneficiando meia dúzia de famílias que enriquecem a partir desses negócios flagrantemente viciados, e beneficiando certos membros de governos que mancham a honra e nome dos povos que dizem representar. Diante do recrudescimento da pequena, média e mega corrupção; Recrudescimento da criminalidade com destaque para a eclosão de novos fenómenos criminais como é o caso da ex- torsão de dinheiro dos cidadãos, raptos e sequestros seguidos de pedido de resgates milionários; Há descontos compulsivos no salário dos funcionários públicos o que é imoral e inadmissível. A Frelimo ainda faz uso abusivo dos bens, funcionários e agentes do Estado, dá mega isenções aos mega projectos, o que prejudica as comunidades que em nada se beneficiam da exploração dos recursos naturais que o país tem. Se a lista parece longa, imaginem estimados leitores que ainda nem falei que há obstrução da actividade política da oposição, reforma compulsiva dos homens indicados pela Renamo que haviam sido integrados nas FADM. Há limitação do espaço de cobertura e divulgação da actuação da oposição nos órgãos de comunicação social públicos e tendência de manipular alguns jornalistas dos órgãos privados. Essa coisa de se instrumentalizar e fazer uso ilegal das Forças de Defesa e Segurança para intimidar, prender e atacar os membros da Renamo a vários níveis deve parar. Estados Democráticos não coabitam desta forma, se o fazem que se lhes diga que isso está errado. Ultimamente, aqui em Moçambique, há perseguição e rapto de desmobilizados da Renamo, havendo casos em que até hoje se desconhece o seu paradeiro. Em que parte do mundo isto seria aceite? Até “ontem” a Frelimo não estava interessada em desmilitarizar a ninguém, somente passou a ver a importância deste aspecto quando houve reacção aos seus ataques às delegações da Renamo. O novel grupo político que surgiu no país também não escapou aos ataques violentos do braço armado da Frelimo. Afinal que país estamos a construir? Meus senhores, queremos que a Paz volte a esta bela Nação o quanto antes. Perante este cenário tenebroso, de visível corrida rumo à democracia de partido único, o Presidente Afonso Macacho Marceta Dhlakama, mais uma vez saiu em defesa do povo moçambicano e propôs ao Governo da Frelimo que se iniciassem negociações para repensar o país, tendo como base legal o Acordo Geral de Paz aceite, em Roma, pela Frelimo, mas que está a ser visivelmente violado em prejuízo do povo moçambicano. O Presidente Afonso Dhlakama, proponente do actual diálogo que decorre entre as Delegações da Renamo e do Governo da Frelimo, reuniu-se em Nampula, em duas ocasiões, com o Presidente da República, Armando Emílio Guebuza. Os referidos encontros não alteraram o cenário de ameaça à democracia diariamente denunciado. A Frelimo continua a violar a Constituição e as demais leis ordinárias. Em 2013, a Frelimo decide usar o exército, para pôr em prática o seu plano maquiavélico de acabar com a Renamo. Uma série de ataques às delegações da Renamo foram levados a cabo pela Força de Intervenção rápida. Manifestações populares organizadas por grupos da sociedade civil em repúdio às políticas da Frelimo que ditam a carestia de vida foram também severamente reprimidas pela Força de Intervenção Rápida culminando com a morte de manifestantes inocentes. Com o agudizar do descontentamento popular, o Governo da Frelimo e o Presidente da República, Armando Emílio Guebuza, passaram a gozar de uma impopularidade jamais vista nos anais da história do multipartidarismo. Revoltado, supõe-se que o Presidente da República na sua qualidade de Comandante em Chefe das Forças Armadas de Defesa de Moçambique insta o exército para atacar a residência do Presidente Dhlakama, em Satunjira, com o fito de assassiná-lo. Foi por sorte divina que o líder da oposição escapou com vida nessa ofensiva preparada por um grupinho de pes- soas que tomaram a Frelimo de assalto e estão a estragar esse Partido. Hoje, a situação sócio-económica e política do país é caracterizada por uma Guerra não declarada, ilegal, contra os resistentes moçambicanos e que interessa apenas aos belicistas que hoje mandam na Frelimo. A verdade é que em Moçambique: O povo vive mal, ganha mal e vive aterrorizado dadas as incursões militares promovidas pelo exército que encontrou no troço Muxúnguè-Save uma fonte de receita, dadas as cobranças ilícitas a que os automobilistas são sujeitos. Apelo ao Presidente da República, na sua qualidade de dirigente máximo da Frelimo, e Comandante em Chefe das Forças de Defesa e Segurança a mandar cessar o cerco que os militares estão a fazer com vista a assassinar um dirigente importante deste país. Que o Presidente Dhlakama possa locomover-se livremente e gozar dos direitos que a Constituição da República confere a todos os cidadãos moçambicanos. Que o Presidente Guebuza ignore a todos asseclas que a partir da Frelimo querem ditar as suas ordens a todo um povo, conduzindo-o a lutar no lugar de dialogar e que assim possa deixar na boca de todo o povo o sabor da reconciliação. Há quem julgue que o Presidente da República está sendo chantageado pela ala belicista que coabita o espaço governamental e o engana dizendo que a guerra é um caminho viável para eliminar todos os opositores. Engana-o quem assim aconselha. O sabor que todos os moçambicanos querem provar é de mel e não este fel misturado com pólvora em que o país mergulhou. Que o Presidente Armando Guebuza dê ouvidos ao povo que pede que ele dialogue com o líder da oposição, Afonso Dhlakama, em busca de soluções duradoiras para os problemas do povo. Que venha a Paz!

 

Comunicóloga, Deputada da Assembleia da República pela Bancada Parlamentar da Renamo

 

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