José E. Isaac * – O TEMPO

por Arsenio Reis

 

A discussão do papel de Macau como ponte ou plataforma para a cooperação entre a China e outras partes do mundo não é nova. Seja a ponte entre o Oriente e o Ocidente, numa mais antiga formulação, seja a plataforma para o desenvolvimento das relações entre a China e os países lusófonos, numa das suas mais vigorosas variantes recentes, a ideia subjacente tem uma longa biografia. E essa é a de que o território, pela sua história e composição demográfica, possui capacidades ou, pelo menos, potencial, para desempenhar aquele tipo de papel, com proveito para as partes e, naturalmente, para si mesmo.

Sem entrar na discussão, mais do que semântica, sobre as diferenças entre uma ponte e uma plataforma, o facto é que, em qualquer caso, estamos a falar de um papel na construção e desenvolvimento de ligações entre outros atores sociais e económicos. Em particular, entre países, regiões, culturas que são suficientemente distintas, distantes, ou sujeitas a outro tipo de obstáculos, para que requeiram ou possam beneficiar de uma intermediação ativa de um terceiro. Isto é, uma intermediação que vá para a além da mera ‘tradução’, pois que implica o envolvimento ativo na pesquisa de soluções que tomem em consideração os condicionalismos concretos a que os agentes das diferentes partes estão sujeitos.

Nesse quadro, o conhecimento aprofundado, das condições específicas de operações nos vários países e regiões é uma necessidade à qual já se fez referência neste espaço. Quando se fala dos países lusófonos, que pessoas, que instituições, que empresas, que instrumentos, normas e costumes específicos podem facilitar ou, pelo contrario, dificultar a identificação de oportunidades viáveis e a sua concretizações? Sendo que cada pais é um caso e não há dois caos semelhantes. Quando se fala da China, que setores, regiões, canais de comunicação se mostram adequados a esta ou aquela atividade, a este ou aquele mercado? Sendo que o acesso, interesse potencial e procedimentos podem também variar fortemente entre as várias províncias e regiões da China.

Quais são os recursos humanos e instrumentos técnicos para promover essa intermediação, os quadros de observação, análise e reflexão, os canais de comunicação e decisão disponíveis localmente ou acessíveis? E, onde não existam estes recursos, como se obtêm ou atraem? Parece que continua a haver insuficiência de clarificação sobre estas matérias, sobre as quais poucos especialistas ou responsáveis, do setor público ou privado, se pronunciam. Só a título de exemplo, uma entre muitas questões específicas que poderiam ser feitas, qual a utilização efetiva do fundo que a China criou para o apoio à cooperação com os países lusófonos? Quais os obstáculos, se os há e foram identificados, quais os procedimentos ou critérios que devem ser seguidos ou corrigidos, se for caso disso?

Por outro lado, Macau integra-se e beneficia de outros quadros de cooperação com a China continental ou algumas das suas regiões, em particular. Poderão essas relações e as vantagens que elas conferem ser capitalizadas no caso da relação com os países lusófonos? Tomemos, por exemplo, o CEPA. Em termos gerais, podemos dizer que o CEPA, quer no caso de Macau quer, também, no caso de Hong Kong, antecipa facilidades que, em grande medida, acabarão por ser concedidas a outros países em resultado da adesão da China à Organização Mundial do Comércio. Esse adiantamento pode ser um trunfo para basear em Macau atividades empresariais da lusofonia ou canalizar por Macau atividades de prestação de serviços, por exemplo? Olhemos para os planos de desenvolvimento do Delta do Rio das Pérolas ou os desenvolvimentos associados aos chamados 9+2. Que vantagens podem daí decorrer, que ensinamentos daí se podem tirar que possam ser contribuir para o desenvolvimento das relações económicas com a lusofonia?

Determinada que está a ideia de base, e definidos os objetivos fundamentais e lançados os quadros institucionais de execução, é tempo de a materializar em acções, procedimentos, projetos e resultados concretos. À medida que o tempo passa, o sucesso dependerá cada vez menos da inspiração e mais da transpiração. Que, para ser eficiente, deve ser enquadrada por uma reflexão criteriosa e mecanismos de avaliação e acompanhamento permanentes.

 

*Economista e Professor Universitário

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