“OS PORTUGUESES ESTÃO AQUI”

por user.admin

Um detalhado mapa da China com referência à presença portuguesa em Macau foi oferecido ao Arquivo Histórico da RAEM

O Arquivo Histórico de Macau recebeu esta semana uma reprodução do “Mapa da Configuração Antiga e Moderna”, oferecido pelo Centro de Investigação de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nacional de Tsing Hua, em Taiwan. Na entrega estiveram presentes Manuel Ravina Martín, diretor do Arquivo Geral das Índias de Sevilha (Espanha), Huang Yinong, diretor do Centro de Investigação de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nacional de Tsing Hua (Taiwan) e Li Yuzhong, professor deste mesmo centro.

O mapa original, que se encontra em Espanha, data do ano 34 (1555) do reinado do Imperador Jiajing, da dinastia Ming, e foi produzido pela Academia de Jinsha Shuyuan, em Longxi, no município de Fujian.

Até chegar a Espanha, este mapa esteve na posse dos Min’Nan, uma minoria étnica da província de Fujian. Só depois atravessou dois oceanos até ao destino final: Sevilha. Corria o ano de 1574.

O professor da Universidade Tsing Hua de Taiwan, Li Yuzhong, que levou a cabo uma investigação ao “Mapa da Configuração Antiga e Moderna”, explicou que nesse ano o governador das Filipinas, Guido de Lavezaris, comprou uma nova reprodução deste mapa a um comerciante da etnia Min’Nan. Esta versão seria mais tarde traduzida para castelhano por um padre augustino com a ajuda de um tradutor chinês. Guido de Lavezaris ofereceu a relíquia ao então rei de Espanha, Felipe II.

O Centro de Investigação de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nacional de Tsing Hua (Taiwan) adquiriu os direitos autorais do mapa detidos pelo Arquivo Geral das Índias de Sevilha em 2013 e oferece agora ao Arquivo Histórico de Macau. A peça tem o tamanho da versão original (115x100cm).

Especialistas chamam a atenção para o fato de nesta reprodução poder distinguir-se a escrita em castelhano. O “Mapa da Configuração Antiga e Moderna” proporciona uma plataforma para o estudo interdisciplinar, acreditam.

A introdução deste mapa na Europa tem também um significado de grande importância, pois é de longe a mais antiga peça que se deu a conhecer à Europa de toda a China e áreas circundantes.

O “Mapa da Configuração Antiga e Moderna” não é apenas uma bússola geográfica da China, mas é uma forma de perceber a visão que os chineses tinham do leste asiático e do Mundo.

A informação contida na sua história reflete as relações entre a Espanha e a China, com dados valiosos para o estudo da História da relação entre os dois países.

Ao longo dos tempos, esta relíquia tem sido integrada em várias obras.

O “Mapa da Configuração Antiga e Moderna” pode encontrar-se em livros antigos como o “Catálogo dos Livros”, de Zhang Huang, e no “Mapa da Configuração Antiga e Moderna dos estrangeiros na China”, que o cartógrafo Wu Xueyan publicou em 1645. Uma versão do especialista Hua Shiwang do ano 40 do reinado do Imperador de Kangxi, da dinastia Qing, também se encontra numa coleção da Biblioteca Nacional da China.

 

OS PORTUGUESES JÁ ESTAVAM

EM MACAU

 

Nesta carta geográfica é também feita uma referência à presença portuguesa por estes lados do mundo. Pode ler-se escrito à mão e em espanhol: “Os Portugueses estão aqui”.

De acordo com uma nota publicada pelo Instituto Cultural de Macau, o mapa oferece “uma informação importante sobre os primórdios do estabelecimento dos portugueses em Macau, o que constitui um acrescento documental de relevo para a história de Macau.”

Mas o passado deste pequeno território vai além da presença lusitana. Segundo o especialista do Centro de Pesquisa do Instituto China-Portugal de Macau, Jin Guopin, também aparecem referências ao condado de Xiang Shan (Montanha Aromática), nome pelo qual era conhecida antigamente esta área geográfica.

Recorde-se que, nas primeiras peças literárias portuguesas, a “Ilha da Montanha Aromática” era também denominada “Ilha de Macao”.

 

“MACAU PODE TER UMA VISÃO MAIS MUNDIAL”

 

“A história de Macau não se pode limitar, de maneira alguma, somente a Macau. Macau pode ter uma visão mais mundial, da pequena Macau pode-se ter uma visão maior, pode-se ver como o mundo é feito”. O alerta vem de Huang Yi Long, da Universidade Tsing Hua durante um seminário após a entrega do mapa ao Arquivo Histórico de Macau.

O especialista acredita que Macau tem uma boa estrutura para a investigação na área da História mundial e não apenas da História local. “Agora é o momento propício”, considerou.

Durante o seminário, o diretor do Arquivo Geral das Índias de Sevilha, Manuel Ravina Martín, referiu ainda que a instituição tem mais de oito mil mapas, incluindo uma peça restaurada pelo especialista taiwanês Lee Yu Chung e por técnicos do Arquivo.

“A história, recolha e digitalização do Arquivo Geral das Índias, de Sevilha, Espanha”; “Situação e perspetivas dos estudos sobre a história do espaço marítimo da Ásia Oriental atual”; e “Registos relacionados com Macau na coleção do Arquivo Geral das Índias e situação e perspetivas de estudos relevantes atuais” foram alguns dos temas abordados durante as palestras.

Vivienne Lao

 

 

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