USJ DEFENDE ESTRATÉGIA REGIONAL E CONTEMPORÂNEA PARA MACAU

por user.admin

Fundou a Faculdade de Indústrias Criativas da Universidade de São José e traçou uma estratégia “mais contemporânea” e que se deve adaptar às “necessidades da indústria regional”. Álvaro Barbosa acredita que as instituições de ensino superior devem ser parceiras do governo e da indústria “com quem se pode discutir e articular estratégias de desenvolvimento para o futuro”.

PLATAFORMA MACAU – Chegou a Macau em 2012 para abrir e dirigir a Faculdade de Indústrias Criativas na Universidade de São José (USJ). Que balanço faz destes dois anos de trabalho?

ÁLVARO BARBOSA – Quando vim para Macau já havia um conjunto de programas aqui na universidade em áreas diversas do Design, Arquitetura, Comunicação e a ideia era restruturar a universidade com faculdades, sendo que uma delas integraria essas áreas que estavam dispersas por outras estruturas, o que não fazia tanto sentido.

Penso que conseguimos fazer uma coisa que até agora não acontecia: que estes cursos que existiam passassem a ser integrados numa comunidade conjunta. Hoje em dia, os alunos de Design, de Comunicação, de Arquitetura fazem parte da mesma faculdade e articulam-se mais uns com os outros. Há ainda um grande caminho a fazer, mas este passo foi dado. Como acredito que a interdisciplinaridade é essencial para a criatividade, este conceito de comunidade numa faculdade foi algo que, até certo ponto, foi conseguido e que naturalmente ainda tem muito para andar, inclusivamente estamos neste momento a propor novos programas que vão completar o acervo de áreas.

 

P.M. – Como por exemplo?

A.B. – O Design de Moda é um dos programas que vamos submeter nos próximos dias para a aprovação do Gabinete de Apoio para o Ensino Superior (GAES).

 

P.M. – Se for aprovado quando vai começar?

A.B. – No próximo ano letivo.

 

P.M. – A USJ tem sido pioneira na abertura de uma série de cursos na área das Industrias Criativas. Arquitetura, por exemplo.

A.B. – O curso de Arquitetura é único neste momento em Macau. Estamos a arrancar com a área Multimédia também e temos um pedido a ser submetido ao GAES. Nós temos o curso de Tecnologias de Informação, que é mais tradicional. Do ponto de vista dos conteúdos fizemos infletir um pouco mais para esta dimensão da Multimédia. Está também em projeto uma proposta de um novo curso nesta área que se vai chamar Tecnologia dos Média Interativos.

 

P.M. – Voltando ainda à nova estratégia que traçou para esta faculdade. Era inevitável fazer nascer uma Faculdade de Indústrias Criativas em Macau?

A.B. – Eu tracei uma estratégia de conjunto com cursos que já existiam e estavam aprovados anteriormente. Redesenhámos os conteúdos para estarem em alinhamento com a estratégia mais contemporânea do que é que são as Indústrias Criativas, que de certa forma também não é exatamente a mesma que existe do ponto de vista da estratégia regional para as Indústrias Criativas, penso eu. A visão governamental para as Indústrias Criativas para Macau talvez não esteja tão alinhada com a visão que estamos a introduzir nesta faculdade, mas que é a visão que achamos que é contemporânea, que faz sentido num sítio como Macau.

 

P.M. – E que visão é essa?

A.B. – É uma visão mais vocacionada para estes setores que referi no início da entrevista, que não são estritamente de promoção cultural e artística, mas são de interface com a indústria e as necessidades, sobretudo com a indústria regional. A necessidade de conteúdos audiovisuais é essencial aqui em Macau. Não é a mesma coisa que dizer que devemos apoiar apenas a escrita de argumentos para cinema, não desfazendo a necessidade e o interesse de haver uma escola de cinema em Macau, que eu sei que é muito desejada por muita gente. Mas não é isso que a industria local pede.

Se fizermos uma análise mais bottom-up (da base para cima) do que é a realidade regional – e falo da área geográfica do Delta do Rio das Pérolas – essa é a análise que deve ser feita e que está a ser feita até certo ponto. É difícil às vezes saber qual é a estratégia que o governo tem.

 

P.M. – Quais são as perspetivas profissionais dos alunos da Faculdade de Indústrias Criativas aqui em Macau?

A.B. – Nós temos uma geração curta de alunos licenciados. Em comunicação temos um ano e nas outras áreas vão sair este ano pela primeira vez. Outra coisa importante de esclarecer é que a nossa vocação não é de formar alunos para trabalhar em Macau, mas em todos os lugares do mundo. A opção que vão tomar de trabalhar ou não em Macau ou em qualquer sítio do mundo é uma opção pessoal. Na nossa cultura mais ocidental e europeia e americana, é natural que as pessoas procurem muitas vezes trabalhar fora do seu país no sentido de ganhar experiência e mundividência.

Primeiro é preciso ter presente que temos aqui uma quantidade razoável de alunos que são internacionais, é natural que já que vieram para aqui estudar, também tenham disponibilidade para trabalhar noutros sítios. Em relação aos nossos alunos de Macau, acho que há uma ideia muito enraizada de que as pessoas que são de Macau devem nascer em Macau, crescer em Macau, trabalhar em Macau, casar em Macau e ficar por aqui. Acho que é uma questão cultural.

 

P.M. – Macau precisa de profissionais na área das Indústrias Criativas.

A.B. – Nós não estamos constrangidos por esse fator, não estamos a tentar só formar quadros para dar resposta às necessidades de mão-de-obra em Macau. Não é essa a nossa visão de universidade, não é esse o nosso objetivo. No entanto, o que acontece é que, atendendo a que neste momento estas são áreas em que há falta de mão-de-obra qualificada, naturalmente acontece que, ao estagiarem aqui e começarem logo a ter contactos, a maior parte dos alunos fica a trabalhar em Macau.

No fundo, acho que o mais importante é que as universidades não sejam apenas locais de transmissão de conhecimento, mas muito mais do que isso. As universidades são plataformas de redes de contacto. Quando hoje vai fazer um curso numa universidade, já não pensa se vai ter o melhor professor que vai dar as melhores aulas, mas se vai ter os melhores colegas, as melhores condições para se inserir numa comunidade e numa rede de contactos. Atendendo às áreas que nós estamos a tentar explorar, procuramos que sejam inovadoras e que não sejam tanto quanto possível concorrenciais com os grandes projetos universitários públicos que têm uma função de suprir as necessidades mais básicas do mercado de trabalho.

Eu acho que era muito importante no futuro da região que as universidades começassem a ser consideradas um ator essencial no desenvolvimento da industria da sociedade. Não só um sítio onde as pessoas vão lá ter umas aulas e sair com um diploma, mas ser um parceiro do governo e dos outros atores da indústria local e sobretudo que isto comece a servir uma estratégia regional. Nós estamos a tentar fazer isto do nosso ponto de vista. Estamos a fazer a acreditação do nosso curso de Arquitetura em Hong Kong e temos parcerias com imensas universidades em Hong Kong e com as quais trabalhamos em conjunto. A nossa ambição era desenvolver um trabalho que legitimasse a confiança dos outros atores da indústria e do Governo e que este olhasse para as universidades como parceiras no desenvolvimento do tecido económico e social, com quem se pode discutir e articular estratégias de desenvolvimento para o futuro.

 

P.M. – É um caminho difícil?

A.B. – Não, é um caminho inevitável e natural. Não acho que Macau seja um caso particular. Esta dificuldade existe em muitos países. Em outros países já está mais avançado como nos Estados Unidos. Efetivamente as universidades são muito mais do que espaços formativos, são agentes de inovação e que trabalham em parceria com a indústria. Na Europa, esse caminho está a tomar forma e na Ásia – com algumas exceções como no Japão ou em Taiwan e um pouco na Coreia – começa a ser interessante. Na China e nas regiões administrativas especiais acho que é um caminho que está a começar a ser feito, mas acredito que parte das universidades a iniciativa de demonstrarem que são esses atores. Isto não é uma coisa que se possa exigir, não é uma estratégia que deva ser top down (decisão que parte de cima), não se pode reivindicar, mas acho que devemos induzir e demonstrar o interesse.

Catarina Domingues

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DAR FORMA A ESPAÇOS CULTURAIS

Com o objetivo de desenvolver o mercado das indústrias culturais e criativas locais, o Instituto Cultural (IC) “espera criar mais plataformas para mostras, dando assim mais oportunidades às entidades destas áreas para a exibição e venda dos seus produtos e serviços”, escreveu o Departamento de Promoção das Indústrias Culturais e Criativas num email ao Plataforma Macau.

Desde que foi criado em 2010, continua a nota do o instituto, este departamento tem vindo a fazer o “replaneamento e a reutilização de espaços culturais”. Em projeto está a reconversão do Cinema de Arte na Travessa da Paixão e das Oficinas Navais.

Além disso, o Governo tem vindo a “apoiar e subsidiar as associações e as indústrias artísticas e culturais, tendo o valor dos subsídios vindo a aumentar anualmente.”

O IC escreveu ainda que os projetos que apoia “são muito vastos” e englobam apoio financeiro para atividades artísticas e culturais. O Programa de Formação de Recursos Humanos em Gestão Cultural e Artes, o  apoio a Projetos Artísticos Comunitários, o financiamento de Estudos nas Áreas das Artes e Cultura, subsídios à Criação de Mostras de Design de Moda e o apoio à Produção Cinematográfica de Longas-Metragens são alguns dos exemplos.

O IC planeia “no futuro estudar o alargamento de programas de financiamento a outras áreas das Indústrias Culturais.”

C.D.

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