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Vivian Yang – ARTE E COMÉRCIO DE MÃOS DADAS

Desde que a Basel comprou a ART HK, ir a Hong Kong durante o mês de Maio é dos grandes momentos do mundo da arte. Para alguns artistas, ainda em início de carreira ou com dificuldades financeiras, é também a oportunidade de ver e de ser visto no mundo das artes. Para quem vive em Pequim – como eu –  ir a Hong Kong é também mais barato do que visitar a Basel Suíça, ou a aFrieze, nos Estados Unidos. O alojamento é um pouco caro, mas os artistas menos famosos podem conviver com grandes mestres contemporâneos, a exemplo dos que lá estiveram este ano:  DamienHirst, AnishKapoor, John McCracken ou Rachel Whiteread, entre outros.

Além da observação de grandes obras-primas, vale a pena ter tempo para socializar: conversar  com representantes das galerias conceituadas como a White Cube ou LissonGallery, encontrar velhos amigos da Yang Gallery ou da WhiteSpace,  jantar com o diretor executivo do Museu M+, LarsNittve, e com o curador senior Pi Li; ou simplesmente participar no Concurso de Arte Contemporânea para os Artistas de Hong Kong. Neste tipo de ambiente, uma só noite pode render inúmeros contactos de artistas, galeristas, curadores ou jornalistas de cultura. Toda a gente  ligada ao mundo das artes lá está. Com 50 cartões destes na mão, podemos ser mais felizes do que com a mesma quantia em dinheiro.

Como os galerias costumam dizer, o importante não é vender todas as obras, rapidamente, mas sim participar nesta plataforma do mundo das artes. Entre beber uns cocktails durante um banquete, depois  jantar num restaurante típico de Hong Kong, muita coisa pode acontecer. Uma galeria pode entrar na lista das mais votadas da feira, ou um artista pode tornar-se parceiro de uma galeria conceituada, por exemplo. Ao nível das instituições, são precisos cerca de quatrocentos mil renminbi (37 mil dólares) para se alugar um espaço e “atacar” a comunidade internacional.  Do ponto de vista pessoal,  basta arranjar dinheiro para as passagens de avião e o alojamento.

Na mesma semana, aproveitando-se da visibilidade da Basel, decorre a HOTELEX, na qual se inscrevem as galerias que não foram aceites no evento “estrela”. Também aí, a informação que circula é a de que, este ano, as vendas correram muito bem. Contagiados pela luz que emana da Feira de Artes da Basel, acontecem um pouco por todo o lado pequenos e grandes festivais de arte, exposições, festas, lançamentos e oficinas de arte. Desde que a Basel anunciou, em 2011, que ia comprar a ART HK, grandes galerias internacionais decidiram abrir sucursais em Hong Kong. Primeiro foi a Gagosian, depois a White Cube e, já este ano, a Pace. Ninguém quer perder o contato com os grandes artistas e colecionadores com dimensão internacional, especialmente os asiáticos que visitam a Basel HK.

O Centro de Artes de Hong Kong, gerido pelo Governo da Região, providenciou gratuitamente alguns autocarros para que os visitantes pudessem chegar ao Centro de Exposições e de Convenções de Hong Kong, ao Museu de Arte de Hong Kong, a CattleDepotArtistVillage, à Fundação de Arte Osage, OiLStreet e ao Centro de Artes de Hong Kong. Por aqui se vê como é forte o apoio ao evento por parte das autoridades locais.

Desde o primeiro ano, o site oficial do Turismo de Hong Kong divulga anualmente a Basel. Aliás, como faz também com o “FrenchMay” e com outras exposições planeadas para Maio. Na cerimónia de abertura da Basel, a secretária para a Administração de Hong Kong, CarrieLam, frisou ainda a determinação do Governo em avançar com a construção do Hong Kong InternationalArt, para além das obras já em curso, no Distrito Cultural de West Kowloon, do Museu M+, um investimento de cerca de USD 4,7 milhões.

Por razões óbvias, quem tem mais a ganhar com a organização de um dos maiores eventos do mundo das artes é a própria cidade. De acordo com números recentemente divulgados, a exposição atraiu quase 65 mil visitantes. Pelas minhas contas, durante os três dias do evento, cada uma delas terá gasto cerca de HKD 10 mil (USD 941), incluindo gastos com as passagens aéreas – para quem partiu de Pequim –  mais alojamento, gastos diários e algumas compras, tais como cosméticos e pequenas lembranças para a família e os amigos. Isto já para não falar nos investimentos  que cada decide fazer em peças de arte. O volume de negócios deste ano não foi ainda revelado, mas tendo como referência a Basel MIAMI, em 2013, durante a qual se transacionaram peças no valor total de USD 3 mil milhões, os números em Kong Kong serão igualmente impressionantes.

Voltando ao ponto de partida, o que será tão atraente na Basel que põe toda a cidade num rebuliço? Na minha opinião, a arte é para se vender, mas este evento é especialmente cuidadoso nos seus formatos comerciais. Os nomes que integram os painéis de jurados são famosos e respeitados. Todos os trabalhos apresentados têm primeiro de passar pelo seu crivo e dependem do seu aval. Ou seja, este não é propriamente o tipo de evento em que o dinheiro fala mais alto.

Entretanto, para destacar as especificidades de cada galeria, a distribuição dos espaços é feita por zonas, de acordo com a reputação das galerias, o tamanho das instalações e a dimensão das exposições. Mas é também tida em conta a visibilidade da arte moderna, a especificidade asiática ou outras características que garantem espaços artísticos coerentes. Mais uma vez, este ano foram convidados curadores de nível internacional para gerir as exposições; tais como o curador-chefe  do Museu de Arte Contemporânea de Tóquio, YukoHasegawa, que planeou grandes  instalações e esculturas para o “LOVE Space”; ou o fundador do BeijingArtLab, Li Zhenhua, que concebeu a unidade das imagens “Film”.

Mais de 40 palestras, workshops para crianças e um espaço interativo ajudaram ainda a compor um evento impressionante, apelativo, lúdico, didático e, até, consumista. A Basel, para além da venda da arte, está sobretudo vocacionada para abrir aos meios artístico canais de distribuição, tendo ainda a vantagem de estar aberta ao público.

Muitas vezes os jovens criticam os artistas consagrados por estes se renderem ao lado mais comercial, chegando a comparar a Feira como uma experiência tão estranha como a de ver a própria mãe a fazer sexo. A verdade é que a Basel vem provar que a dimensão comercial e o lado artístico não se contradizem necessariamente. Pelo contrário, podem até unir-se num ciclo virtuoso.

Queixamo-nos constantemente de que tudo é demasiado comercial. Talvez seja. Ou  então nós é que não temos um faro comercial. O que penso é que vale muito a pena visitar lugares que espelham o que faz a Basel.

 

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