O PAÍS CERTO PARA INVESTIR

por user.admin

Portugal tem juventude com ótima formação universitária, infraestruturas de nível mundial e um ambiente de negócios melhor que os da Suíça ou da Dinamarca. Em contrapartida falta-lhe investimento e precisa de aumentar o stock de capital por trabalhador para que a produtividade aumente e o nível de vida suba. Está no Euro e é, por vocação, uma plataforma entre a Europa, o Sul e o Oriente. É um bom sítio para comprar, para vender e, sobretudo, para investir.

Apesar das fragilidades próprias de um país que sai de um programa de assistência financeira fornecido pela União Europeia e pelo Fundo Monetário Internacional, entre 2011 e 2014, Portugal está a fazê-lo de uma forma muito mais airosa do que os últimos anos permitiriam supor, com os mercados a propiciarem-lhe taxas de juro à volta dos 3%.
Há nisto um papel fundamental das instâncias europeias, em particular do Banco Central Europeu, que encontraram finalmente uma forma eficiente de reagir à crise ultrapassando as suas limitações institucionais. E tem importância, igualmente, a saída de alguns investidores dos mercados emergentes.
Mas o essencial é que Portugal voltou a ser uma economia com elevado potencial de crescimento. Ou seja, transformou-se num país certo para investir. E a razão é simples: a economia portuguesa só não cresce de forma vigorosa porque na última década e meia não tem tido o nível de investimento necessário por parte dos empresários portugueses ou dos investidores estrangeiros.
Não investiram, apesar de a nova geração de portugueses ter um nível de educação próximo da média dos países mais desenvolvidos, o que, aliás, explica a facilidade com que consegue emigrar e sair-se bem no estrangeiro. Não investiram, apesar de o nível de infraestruturas – autoestradas, internet de alta velocidade (fibra ótica), universidades, rede de hotéis, telecomunicações, redes de gás, de eletricidade, etc – ser dos melhores que há no mundo. Não investiram, apesar do ambiente de negócios (custos de contexto) ter melhorado imenso nos últimos anos, em boa parte devido ao programa “Simplex” de desburocratização e à forma ágil como os fundos europeus passaram a apoiar projetos empresariais. Hoje, Portugal está à frente da Suíça ou da Dinamarca no ranking DoingBusiness do Banco Mundial.
Apesar destas belíssimas condições, como em abril lembrava Manuel Pinho, ex-ministro da Economia, é a falta de investimento que faz com que em média o stock de capital por trabalhador (máquinas, ferramentas informáticas, infraestruturas, etc) seja tão baixo em Portugal: 83 mil dólares – 30% da Alemanha; 60% da Espanha; 75% da Grécia! Não admira por isso que a produtividade em Portugal tenha crescido tão devagar nesta década e meia.
HAJA CAPITAL

Noutras condições, tudo se modifica. Nos casos das fileiras da madeira (e papel), do turismo, do calçado, do têxtil – em que o stock de capital por trabalhador foi aumentado de forma substancial – geraram-se produtividades ao nível dos melhores padrões internacionais e nasceram indústrias competitivas a nível mundial. A refinaria da Galp em Sines, a fábrica de papel da Portucel em Setúbal, o projeto da Embraer em Évora, a fábrica de mobiliário da IKEA em Paredes ou a fábrica de turbinas eólicas da Enercom em Viana do Castelo são bons exemplos de como os investimentos em Portugal podem atingir elevados níveis de rentabilidade.
Quanto aos trabalhadores portugueses, passa-se o mesmo. Seja em Portugal (como na Autoeuropa, fábrica da Volkswagen), seja nos Estados Unidos, na Alemanha ou no Dubai, quando têm um stock de capital muitas vezes superior ao que estão habituados e dispõem de gestores mais competentes, a sua produtividade torna-se das mais altas.
É exatamente por as coisas serem assim que o atual governo de Passos Coelho, tal como o anterior de José Sócrates, colocaram a captação de investimento estrangeiro como prioridade. No Brasil, em Angola ou na China, o Presidente da República, o primeiro-ministro e quase todos os membros dos governos aplicaram-se a criar condições para que os investidores estrangeiros, principalmente da Lusofonia (Macau incluído) e da China, percebessem o potencial que têm à sua disposição.

PORTA PARA A EUROPA

Para além do seu potencial próprio, Portugal oferece também aos investidores e parceiros comerciais estrangeiros as vantagens da sua inclusão no espaço europeu.
É certo que a Europa está a braços com uma crise persistente, mas mantém as suas vantagens competitivas. Demograficamente, continua a ser o segundo maior bloco mundial, é a principal potência exportadora e o maior impor-
tador à escala global. Com a experiência da construção europeia, tem ainda uma património de paz, de entendimento e de parceria interna sem paralelo na história mundial. É, aliás, a primeira experiência de transferências de soberania (incluindo a moeda) feita em paz na história da Humanidade.
É este enorme potencial que interessa à China, ao Brasil e a Angola, entre outros. Estes países estão estruturalmente interessados na consolidação do Euro para se “libertarem” da relação (quase) única com o dólar americano. São economias com fortíssimos fundos soberanos interessados em diversificar para ativos em euros. O sonho português não é incompatível com o sonho chinês de consolidar o regresso da sua centralidade mundial, nem com o sonho brasileiro de ser a grande potência do Atlântico Sul e um “player” mundial, nem com o sonho angolano de ser uma potência regional e cosmopolita, nem com os sonhos de desenvolvimento e de paz social dos restantes países de língua portuguesa. Pelo contrário, são sonhos não só compatíveis, como complementares, tendo todos a a ganhar se multiplicaram e cruzarem entre si investimentos e trocas comerciais.

Luís Miguel Viana

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